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  A CAMPANHA DO FIM DO MUNDO

Data: 04/10/2014

A campanha do fim do mundo

Tribuna de Petrópolis, sábado, 4 de outubro de 2014

 

A luta pela reeleição virou tudo ou nada de mentiras, armadilhas e golpes baixos que roubaram a cena das discussões indispensáveis. Dilma chegou a despencar o Brasil do degrau de honra que ocupava desde a criação da ONU, quando fez do discurso de abertura da Assembleia Geral mero programa eleitoral em privilegiado palanque. Nunca antes! E com clamorosa bola fora ao dar puxão de orelhas nos Estados Unidos que, em sua visão, devia “negociar” com terroristas do Estado Islâmico que, Estado não sendo, carece de status que viabilize negociação. Mas em eleição tudo vale, parece.

E o neto de Tancredo surpreendeu-se, ao ver o PSDB no drama dos moribundos. Minguando a cada eleição, partiu para a luta pela sobrevivência. Se não ganha as eleições presidenciais, ou ao menos não se mantém competitivo, enterra candidaturas a governador, senador e deputado de que necessitará para continuar respirando. Por aparelhos. Daí, somou chumbo na artilharia pesada.

Marina Silva. A tragédia de Eduardo Campos a pôs no palanque alheio. Dificuldades para gerir a campanha em que não faltou fogo amigo. Subiu nas pesquisas, com antecipação excessiva. Exposta, virou alvo de todos os ataques. A intrusa que vinha estragar o script da tradicional briga dos “primos-gêmeos” PT e PSDB. Reagiu tarde à saraivada de chumbo grosso. Numa eleição sem praças, a mídia é o comício. E com as marteladas eletrônicas, os milagres de manipulação puseram Marina “retrógrada”, “homofóbica”, “hesitante”, “falsa”, “antipovo”, “elitista”, comparsa de ladrões e banqueiros. Além de não ter caráter! Ora, Chico Mendes deve ter revirado no túmulo com o abjeto bombardeio! Se sobreviver, a Marina de biografia limpa e sobrevivente terá feito um milagre.

Já os demais candidatos, simploriamente, reduziram os problemas a casamento gay, aborto e liberação da maconha. Discursos falsamente progressistas, que povoam o imaginário da esquerda miúda, desde que a luta de classes foi relativizada por novos padrões informatizados e informalizados do mercado produtivo. Buscando nichos, tentam apenas se manter vivos.

Tudo isso deu campanha de desesperos, que não é bom conselheiro. Campanha de golpes baixos, que provam nossa falência ética. Quando se disse que o gigante acordou, não sabia eu que se tratava do Golias do mau caratismo. Difícil crer que quem sai arrogante distribuindo petardos campanha afora, é a mesma que, cercada em palácio, com os gramados de Brasília em fogo, fez-se de morta, frente à vândala insatisfação geral. Campanha eleitoral é um momento de educação política. A campanha maior deu mau exemplo e padrão para os pequenos delitos e incivilidades cotidianas que infestam nosso dia a dia pelas ruas, escolas, órgãos públicos, comércios.

Os escrúpulos que existem ou faltam numa campanha dizem muito do que se deve esperar de um governante. E as notícias não são boas. Por tudo isso, bom seria que as urnas nos dessem o mais do que nunca indispensável segundo turno. Até porque, vença quem vencer, o sangue que correu nesta campanha criou ambiente conflagrado que dará dificuldades inéditas a quem vier governar. O país está rachado. O clientelismo virou pedágio para a corrupção e uso das estatais. Montou-se máquina partidária que aparelhou sindicatos e instituições. Uma bomba relógio. Escolheremos no colo de quem ela explode. Por isso, é preciso mais reflexão. E civilidade. Uma eleição não precisa ser um apocalipse moral.

 

Denilson Cardoso de Araújo

 




 

 

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