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  As Cidades e o Desafio do Desemprego Tecnológico - Ronaldo Fiani

Data: 31/01/2021

 

As Cidades e o Desafio do Desemprego Tecnológico
Diário de Petrópolis – 31/01/2021
Coluna Ronaldo Fiani
 
 
Infelizmente, o desemprego faz parte do sistema econômico em que vivemos. Mas isto não quer dizer que somos obrigados a aceitar passivamente uma taxa elevada de desemprego, seja na cidade, na região, ou no país. Uma taxa de desemprego permanentemente elevada é sintoma de uma economia pouco dinâmica, ou seja, baseada em atividades de baixa produtividade com tecnologia simples, especialmente no setor de serviços, como o pequeno comércio, lanchonetes e bares etc. Um outro sintoma importante de que a economia apresenta pouco dinamismo é um grande volume de empregos precários, informais e eventuais.
 
Portanto, o desemprego deve ser analisado não apenas como um sintoma de dificuldades temporárias (como as dificuldades para a economia resultantes
das restrições para o combate à pandemia), mas principalmente como um indicador do grau de sofisticação de uma economia. Economias atrasadas tendem a mostrar taxas de desemprego e subemprego elevadas, com uma parcela significativa da população vivendo na informalidade, aqueles que foram chamados de “invisíveis” pelo ministro Paulo Guedes, que no Brasil atingiriam algo em torno de 60 milhões de pessoas (aproximadamente 3 em cada 10 brasileiros).
 
Ocorre que as mudanças tecnológicas dos últimos 40 anos (desenvolvimento da computação, dos robôs e das novas tecnologias digitais de comunicação) adicionaram um novo componente ao desemprego: o desemprego tecnológico. Trata-se do desemprego causado pelas inovações que substituem trabalhadores por máquinas, entre elas computadores e novas tecnologias de comunicação digitais, especialmente aquelas relacionadas à internet.
 
Estas inovações vêm elevando as taxas de desemprego até mesmo em países desenvolvidos, mas de uma forma nova e importante. Em vez de elevar o desemprego na economia do país como um todo, elas afetam mais fortemente determinadas regiões do país. As regiões que abrigam atividades mais tradicionais, em que várias empresas e até mesmo setores inteiros são eliminados pela introdução das inovações são mais afetadas pelo desemprego do que as regiões onde empresas de ponta produzem as próprias inovações tecnológicas.
 
Considere o caso da Alemanha, a principal economia da Europa. Antes da pandemia, o país ostentava uma taxa de desemprego pouco superior a 3%. Em agosto do ano passado, em função das medidas restritivas, a taxa de desemprego havia se elevado para 6,4%. Mas este desemprego não se distribuiu uniformemente pelos estados alemães. Naquele mês, já em plena
pandemia, os estados do norte do país, cuja economia ainda se baseia majoritariamente nas indústrias mais tradicionais ostentavam taxas elevadas de desemprego, superiores à média nacional: Bremen apresentava 12,0% de desemprego, Berlim sofria com uma taxa de 10,7%, Hamburgo apresentava taxa de 8,4% e o Norte do Reno-Vestefália também enfrentava uma taxa de 8,4% de desemprego. Já os estados no sul do país, que abrigam empresas de tecnologia de ponta, como o Baden-Wutterberg e a Bavária ostentavam no mesmo mês de agosto do ano passado taxas de desemprego inferiores à média nacional, de 4,6% e 4,1% respectivamente (dados do departamento oficial de estatísticas alemão).
 
Esta diferença regional do desemprego pode ser observada em outros países, como nos Estados Unidos, e demonstra que, de uma forma geral e especialmente em crises, as regiões que concentram as atividades econômicas de ponta tendem a sofrer menos com o desemprego do que aquelas voltadas para atividades econômicas tradicionais, especialmente as de menor produtividade. O que vale para regiões também vale para cidades: basta comparar São Francisco com Detroit nos Estados Unidos.
 
Com suas universidades, o Laboratório Nacional de Computação Científica, seus museus que demandam tecnologias digitais para a divulgação de suas atividades, sua proteção e a ampliação da experiência do visitante, e seu polo de tecnologia, Petrópolis ainda tem a chance de escolher se vai ser uma das capitais da tecnologia de ponta ou mais uma cidade sofrendo com o desemprego no país.
 

 




 

 

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