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  Banco de preciosidades - Denilson Cardoso de Araújo

Data: 15/02/2020

 

Banco de preciosidades

Denilson Cardoso de Araújo - Escritor

 

Descobri ao acaso, acho que num filme de espionagem, a existência de uma espécie de Arca de Noé das espécies vegetais. Coisa de ficção científica, para preservá-las de extinção. Um banco de sementes em uma ilha da Noruega, mil quilômetros abaixo do Polo Norte. A entrada da construção parece um híbrido de cubo futurista com muralha de Game of Thrones. Caixa de concreto, pela qual se mergulha em celeiros gigantescos nos subsolos da montanha de gelo. Um bunker fortificado em grossas paredes de concreto armado com robustas portas de aço, projetado para suportar catástrofes climáticas e nucleares. A iniciativa da Noruega tem apoio da FAO (órgão da ONU para alimentação e agricultura). Custou mais de 8 milhões de euros, financiados por diversas organizações, dentre as quais a Fundação Bill Gates.

Sementes de banana, trigo, coco, mandioca, sorgo, arroz, milho, e tudo mais que você possa imaginar (quase 800 mil espécies já ali catalogadas, das mais de dois milhões existentes), lá permanecem, mais protegidas que baús de ouro. Os cofres de sementes recebem tratamento de segurança máxima. Depois da entrada vigiada por guardas fortemente armados, vem um túnel de 115 metros, pelo qual se acessa as três robustas portas restantes, todas à prova de água e de fogo. As sementes são armazenadas, catalogadas, envelopadas em plásticos quádruplos, com 500 unidades de cada exemplar. O trabalho é realizado por cerca de 500 funcionários vigiados por câmeras de monitoramento, a 120 metros abaixo da superfície, a 18 graus negativos. Nessa temperatura, em tese, certas espécies poderiam resistir, incólumes, por 20.000 anos.

A iniciativa não é única. Existe um impressionante total de 1750 bancos de sementes mundo afora. O norueguês, acima descrito, é o mais impressionante. Mas o maior se encontra em Sussex, na Inglaterra. São iniciativas bonitas, sofisticadas, mas assustadoras. Dão concretude a cenários de filmes de zumbis e holocaustos nucleares. Mas, antes de cataclismos atômicos e derramamentos de pragas egípcias, a ameaça de extinção de espécies e de redução da biodiversidade está posta mesmo é pelo corriqueiro do nosso dia a dia. Em ataques ao meio ambiente, derrubada de florestas, alterações climáticas, imposição de monoculturas, uso extensivo de agrotóxicos, e adoção de transgênicos - sementes estéreis, que obrigam novas compras a cada safra.

Tudo isso me fez lembrar coisas preciosas já em extinção que deveriam merecer bancos protegidos para que fossem resgatadas em prol da humanidade. 

Como “a gente não quer só comida”, proponho que se guardem exemplares, já escassos, de coisas como. Político honesto. Homem solidário. Música de qualidade. Respeito à diferença de opinião. Capacidade de ouvir. Respeito ao mais velhos. Orquestras de Câmara. Gratidão. Consciência ecológica. Silêncio. Canto a capella. Motociclista que não se queira dono da rua. Casais que persistam quando a dificuldade vier. Perdão. Crianças que brinquem de pé descalço no quintal. Quintais. Hortênsias na beira do rio. Pedido de “bença” aos pais. Amigos incondicionais. Abelhas. Cirandas. Abraços sinceros. Jovens que saibam assobiar como canários. Solidariedade. Gentileza. Empatia. Tolerância. Idosos que saibam dançar. Gentileza. Beijo na testa. Senso de honra. De dever. Gentileza. Resiliência. Poesia. Generosidade. Donaire. Corais de meninos. Humildade. Caridade. Filmes de Chaplin. Fé em Deus. Fé em Deus. Fé em Deus.

 

denilsoncdearaujo.blogspot.com




 

 

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