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  A LIÇÃO DA ESFINGE CHILENA - Gastão Reis

Data: 02/11/2019

 

A LIÇÃO DA ESFINGE CHILENA *

 

“Decifra-me ou te devoro!” era o que dizia a esfinge aos viajantes que davam de cara com ela na entrada de Tebas. O enigma proposto era o seguinte: “Qual o ser que pela manhã tem quatro pés, ao meio dia tem dois, e à noite tem três?” Foi Édipo que o decifrou, dizendo que era o Homem. No início, engatinhava, depois se firmava sobre dois pés, e por fim usava um terceiro pé na velhice, a bengala. Adaptado ao Chile, o enigma poderia ser fácil de responder, mas nem por isso fácil de explicar: “Qual o país que estava de quatro na economia, firmou-se depois num tripé intermediário e por fim se pôs sobre dois pés firmes, livre mercado e política econômica consequente?”.  

Para complicar mais ainda o enigma do chileno, vale relembrar que, após a queda de Pinochet, vários governos eleitos eram de esquerda. E, ao invés de jogarem por terra a política econômica anterior, a mantiveram. Coisa de quem tem a cabeça no lugar quando se pensa na exceção que foi na esquerda latino-americana pródiga em prometer paraísos terrestres que se tornaram infernos, como Venezuela e Cuba. E o resultado foi positivo: a renda per capita chilena está 60% acima da nossa pelo conceito do PPP (paridade do poder de compra).

O enigma se adensa ainda mais quando dados levantados pela OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) nos informam que o Chile foi o país que apresentou a maior mobilidade social entre todos seus integrantes. Ou seja, 23% dos filhos de pais situados nos 25% (quartil inferior) da população com menores recursos conseguiram saltar para o grupo dos 25% superiores (quartil mais elevado de renda).  Os EUA e a Alemanha mal chegam a um percentual de 10%! Mais: 67% dos pais chilenos pensam que seus filhos terão uma situação financeira melhor que a deles. Situa-se em primeiro lugar entre os países da OCDE em matéria de expectativas positivas para o futuro. Israel ocupa o segundo lugar com um percentual de não mais que 50%.

Então, o que, afinal, aconteceu? Vamos lá.

A insatisfação explodiu, basicamente, segundo a grande mídia no mundo e no Brasil, em decorrência da desigualdade de renda, desconsiderando a complexidade dos fatos ocorridos. Sem dúvida que as tarifas e a qualidade dos serviços públicos vêm-se deteriorando há anos, típico fenômeno das deficiências estatais nessa área. A renda não acompanhou a elevação dos preços, inclusive pela alta de 10% do dólar desde março.

O presidente Piñera, de direita, adotou medidas concretas para acalmar os ânimos: garantia de renda mínima de 350 mil pesos mensais (R$ 1.950,00, quase o dobro do nosso salário mínimo); aumento de 20% das aposentadorias; quem ganha mais de 8 milhões de pesos (45 mil reais) teve um aumento de impostos de 40%; criação de uma mecanismo de estabilização das tarifas; projeto de um teto de gastos com saúde das famílias que, quando ultrapassa-do, será pago pelo resto da sociedade via aumento de impostos; e ainda convê-nio entre governo e farmácias de modo a reduzir os preços dos medicamentos.           

Que lição podemos tirar do Chile em relação ao caso trágico venezuelano?

A insatisfação no Chile pôde ser resolvida em bases permanentes porque o governo chileno tem de onde tirar os recursos para atender às demandas sociais e o venezuelano, não. Moral: o capitalismo, que não é craque em distribuir, é craque em gerar recursos que podem ser politicamente, e com bom senso de medida, bem distribuídos.  

 

Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira - Empresário e economista

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