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  CORONA VIRUS: NÃO DIGA BOBAGENS. 10 PONTOS SÓ PARA LEIGOS - Luiz de Mello e Souza

Data: 20/04/2020

 

Primeiro: Muito obrigado pelo texto (O BRADO DE PETRÓPOLIS Nº 76), que apreciei, aprendi repassarei para quem se interessar.

Segundo: Como médico, no meio dessa pandemia, igualmente idoso (nascido em 1930) procuro ao menos informar às demais pessoas o que é básico nestes tempos: a incerteza. Não se sabe quase nada dessa variedade de vírus, e como se transmite. TV, rádio, jornais repassando palpites como verdades científicas e desprezando o pouco que se sabe com segurança.

Para esclarecimento de leigos, não biólogos, médicos ou outros profissionais de saúde, escrevi o texto abaixo, que pode ser repassado. E várias entidades médicas brasileiras (de especialistas em infectologia, tratamento intensivo, anestesia, radiologia e outros) redigiram agora no começo de abril um trabalho minucioso, 75 páginas e mais de 100 revisões bibliográficas, sobre o que se sabe, se especula e não se sabe. Está à disposição para ser repassado pela internet. É só pedir.

Mantenha contato, e muito grato.
Luiz

 

CORONA VIRUS: NÃO DIGA BOBAGENS.

10 PONTOS SÓ PARA LEIGOS

            Tendo lido e ouvido várias bobagens, erros importantes por ignorância do que é um vírus, uma bactéria, uma célula, declarações imprecisas e publicações por quem não conhece o assunto, decidi explicar, de modo superficial e sucinto, mas cientificamente correto.        

            Primeiro: Em 1665 Robert Hooke, inglês que viveu de 1635 a 1703, cientista e curioso, conseguiu juntar algumas lentes, um microscópio rudimentar, imperfeito, e examinar, entre outras coisas, pedacinhos de cortiça. Verificou que a cortiça era formada por muitas pequenas cavidades (donde a compressibilidade), pequenos compartimentos ocos, aos quais deu o nome célula, do latim, diminutivo de cela, ou seja, pequena cela, pequeno compartimento. Bem mais tarde verificou-se que na madeira verde, viva, essas células, como aposentos minúsculos, eram cheias de uma substância heterogênea, base da vida, donde o nome protoplasma (primeira matéria, em grego). Esse material, que continua até hoje com o nome célula, forma todos os seres vivos, animais e vegetais. Todos os órgãos - pulmão, fígado, cérebro, pele e os outros, - todas as plantas, folhas, caule, flores etc. são formados de muitos bilhões de células. Alguns seres muito pequenos, micróbios ( do grego micro = pequeno, bio = vida) bactérias, são formados por uma única célula. As menores células medem menos de um milésimo de milímetro, poucas tem mais de 50 milésimos de milímetro. A estrutura, as atividades, funções, alimentação e nutrição, a reprodução e ação das células hoje são conhecidas em bastante detalhe, mas seria muito longo descrever aqui.

            Segundo: Muitas doenças contagiosas, transmissíveis, - passam de uma pessoa para outra - são causadas por esses seres unicelulares, de uma única célula. Isto foi descoberto, na maior parte, com o aperfeiçoamento dos microscópios, na segunda metade do século XIX. Esses unicelulares, também verificou-se, eram retidos por cerâmicas ou outros materiais de poros muito pequenos, que permitiam a passagem da água e substâncias dissolvidas. Mas algumas doenças contagiosas, de plantas, animais e do homem, conhecidas desde civilizações antigas, eram causadas por algo que atravessava os filtros. Criou-se a expressão Vírus Filtráveis. A palavra vírus em latim indica veneno, tóxico. Acreditava-se que só líquidos e materiais solúveis pudessem passar pelos poros dos filtros.

            Terceiro: Até o fim do século XIX nada se sabia sobre as características dos vírus, e até alguns cientistas achavam que eram venenos líquidos, por passar nos filtros. Isso explicava o comportamento nos filtros, mas não explicava porque eram contagiosos, e afetavam plantas e animais (e pessoas), com doenças que prejudicavam muito ou matavam, e, importante, que o ser vivo afetado poderia desenvolver imunidade, pouca, muita, por tempo curto ou longo, e que, para alguns vírus, poderiam ser criadas vacinas, preparados que estimulariam a imunidade impedindo a ação desses venenos. As pesquisas de Pasteur foram básicas, mas não foram as primeiras nem as únicas.

            Quarto: A partir do fim do século XIX e começo do século XX numerosas pesquisas permitiram que se aprendesse sobre os vírus, e suas quatro características básicas: a) São muito pequenos, invisíveis nos microscópios convencionais, que permitem identificar coisas de um milésimo de milímetro, mas nada muito menor. Por isso passam pelos filtros. O formato é esférico ou cilíndrico, com ou sem saliências, espinhos, irregularidades. b) São parasitas intra-celulares obrigatórios. Fora das células tem resistência muito variável, de vírus para vírus, de poucas horas a muitos meses, mas são incapazes de se reproduzir. Os vírus, como dito, não são vistos nos microscópios ópticos, mas as alterações celulares sim. c) São específicos. Só se desenvolvem em células definidas, de plantas, invertebrados, de determinados órgãos de animais maiores ou do homem. Nunca em células diferentes. E há vírus que parasitam bactérias. Um vírus bastante estudado causa uma doença no tabaco, conhecida como mosaico. Não consegue parasitar nenhuma outra planta e nenhum animal. O vírus da hepatite humana só se desenvolve no fígado humano, em nenhum outro animal, em nenhum outro órgão. d) São mutáveis. Mudam e evoluem, de modo espontâneo ou provocado, alterando a afinidade pela espécie ou órgão parasitado. Adaptam-se, de modo reversível ou não.

            Quinto: A estrutura dos vírus é uma nucleoproteína, formada a partir de uma substância só existente nas células: ácidos ribonucleico ou desoxirribonucleico (conhecidos pelas siglas inglesas RNA e DNA). Esses ácidos são duplicáveis a partir de material só existente nas células. Por isso a duplicação ou reprodução dos vírus depende de uma célula viva. E a célula morre depois de algum tempo, em consequência.

            Sexto: A mutabilidade dos vírus é responsável por várias doenças de aparecimento recente: AIDS (por HIV) em 1978, SARS (problema respiratório grave) há uns 20 anos, e agora, o Coronavirus ou covid-19. Todos esses vírus aparentemente parasitavam animais, e sofreram mudanças que permitiram parasitar o homem. E, essa mutabilidade ainda não é conhecida em detalhes.

            Sétimo: Não há nenhum remédio realmente eficiente para doença por vírus. Com bactérias unicelulares pode-se usar antibiótico, que geralmente age impedindo sua multiplicação. Antibiótico não age em vírus. É necessário alimentar e hidratar bem o doente, de modo que a imunidade natural de cada individuo combata e elimine o vírus. Se essa imunidade estiver prejudicada por outras doenças, deficiência alimentar ou qualquer outra condição, o risco de vida é alto. Algumas vezes, como com o vírus da raiva, quando não se consegue induzir a imunidade, a morte é certa.

            Oitavo: Ponto importante: Doença nova é mal conhecida, pouco se sabe. Quanto tempo entre a contaminação e o aparecimento dos sintomas ? Alguma medicação influencia a evolução ? Qual ou quais ? Em que dose ? De que modo ? Antes dos sintomas a pessoa pode transmitir a doença ? Quanto tempo para curar ? Há imunidade ? Quanto dura ? Quais as variações individuais ? Há quem tenha o vírus sem adoecer ? (Algumas observações minuciosas e bem documentadas mostram que mais da metade dos indivíduos contaminados com o covid-19 não tem sintomas). E essa pessoa pode contaminar outras ? De que modo ? Como criar uma vacina ? Por quanto tempo testar ? O vírus resiste a quais temperaturas ? Quente ? Frio ? Por quanto tempo ? E a quais substâncias químicas ? Com AIDS foram mais de 30 anos para se obter um conhecimento razoável. E ainda não há vacina. Coronavírus é conhecido há poucos meses. Não há respostas seguras para muitas perguntas, há só palpites e invencionices, opiniões nem sempre baseadas em fatos ou evidências. Sabemos apenas, por observação do contágio na China e na Europa, que: a) O contágio é muito fácil, entre pessoas, com aperto de mão, beijo, tosse etc. Pessoas contaminadas podem deixar o vírus em qualquer objeto ou superfície. b) Muitos dos infectados nada sentem, como dito acima, e praticamente não são afetados pelo vírus. Mas estão contaminados e transmitem essa contaminação. Quase sempre crianças ou jovens, mas podem ser de meia idade ou idosos. E, curiosidade, apesar de assintomáticos se submetidos a uma tomografia computadorizada 2/3 dos examinados tem pequeno acometimento pulmonar. c) Depois dos 40 ou 50 anos a doença é mais grave, podendo dar sintomas leves, severos, ou ser mortal. Já houve mortes entre crianças e jovens, porém a intensidade da doença e o perigo são muito maiores entre as pessoas de idade avançada. As estatísticas ainda não são precisas. As observações detalhadas, cuidadosas, bem documentadas, foram poucas.

            Nono: Também sem respostas claras: A influência na economia. Por causa de possível contágio as pessoas saem menos, quase não viajam, compram menos. Recessão econômica agravada por noticiário alarmante e pouco confiável. Aflição e problema psicológico piorando tudo. O presidente Trump, dos EUA, ficou preocupado, no início da infestação, com umas dezenas de doentes e umas poucas mortes. Entidades médicas o informaram que toda semana, no país, morrem mais de mil pessoas por complicações de uma gripe comum. E nenhum governo leva gripe muito a sério. O que fazer com o Coronavirus ? E, se o governo tomar medidas rígidas, severas, para impedir a disseminação do vírus a influência na economia e a recessão serão maiores. Se as medidas forem mais brandas o vírus pode se disseminar mais e causar mais doentes e mais mortes, e mais despesas. Como agir ? A economia no futuro pode se recuperar. A morte é definitiva.

            Décimo: Ficou com dúvidas ? Tem perguntas ? Gostaria de saber detalhes ? Quer mais fatos ? Procura dados melhores ? Simples. Aguarde uns 10 ou 20 anos. E não acredite em tudo o que é dito na TV. (Março de 2020).

 

Luiz de Mello e Souza (médico radiologista, não especialista em infecções)

 




 

 

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