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  CNBB promove movimento pela reforma política

Data: 18/05/2014

 

CNBB promove movimento pela reforma política

 

Diário de Petrópolis, Domingo, 18 de maio de 2014

 

 

Em 1996, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu como tema da Campanha da Fraternidade daquele ano "Fraternidade e Política". A consequência foi o projeto "Combatendo a corrupção eleitoral", um ano depois, também organizado pela CNBB. Esse foi o primeiro passo da história da Lei Ficha Limpa, aprovada em 2010. A tramitação do projeto de lei no Congresso brasileiro aconteceu depois que 1,3 milhão de pessoas participaram de um movimento que visava enviar à Câmara uma proposta de iniciativa popular. 85% dessas assinaturas foram colhidas por esse movimento lançado pela igreja católica.

 

Esse histórico positivo é o que faz a entidade encampar mais um movimento político. Até o dia oito de agosto, as paróquias e dioceses de todo país vão coletar assinaturas para o projeto da Coalizão pela Reforma Política e Democrática – Eleições Limpas.

 

– Começamos a coleta uma semana atrás. Nós mandamos para todos os párocos, vamos levar também a todos os eventos. E desejamos que todos os maiores de 16 anos participem para somar forças. Todas as paróquias estão participando e nós queremos convencer também outros setores da sociedade, como as igrejas evangélicas e os movimentos (sociais), os cidadãos comuns, para que a gente se una nesse desejo – diz o bispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão.

 

Em entrevista ao Diário concedida na última sexta-feira, ele explicou o que é esse projeto e analisou diversos pontos do sistema político e social brasileiro. Para Dom Gregório, um problema que o país tem é a falta de iniciativa.

 

– Nós costumamos criticar em muitas situações, somos ótimos críticos. Mas nós propomos muito pouco. Mal comparando, é como você encontrar seu filho bagunçando todos os brinquedos na sua casa. Você reclama, mas vai lá e arruma. Outra coisa é você sentar com ele e dizer: "eu vou ficar aqui olhando você arrumar tudo", mostrar que não é assim que as coisas têm que acontecer. Nós precisamos gerar responsabilidades – acha ele. O bispo afirma que este é um movimento completamente afastado de partidos políticos e que lança olhos apenas para a população brasileira.

 

– Sabemos que o momento político é muito difícil. Aquilo que nós desejamos com a coleta de assinaturas não é combater esse ou aquele partido político. Não estamos ligados em nenhum partido político. O que nós desejamos realmente é colaborar com a reflexão na sociedade e pedir, com força de lei, que as coisas aconteçam. Para que nós consigamos fazer a mesma coisa que fizemos com o projeto da Ficha Limpa. Hoje todo mundo acha a Ficha Limpa maravilhosa, para que político corrupto não se eleja. Mas lá no início se deu dessa forma: nós fomos às paróquias, pedimos às pessoas para nos apoiar, fomos às ruas – recorda.

 

Propostas

 

No manifesto da Coalizão, está colocado que "existe um grande número de problemas em nosso sistema eleitoral que necessita de mudanças". De acordo com a Coalizão, os problemas estruturantes do sistema político brasileiro, ou seja, não há como avançar no processo democrático sem removê-los, são: 1) o financiamento de campanhas por empresas e a consequente corrupção eleitoral; 2) o sistema eleitoral proporcional de lista aberta de candidatos; 3) a sub-representação das mulheres; 4) a falta de regulamentação dos mecanismos da democracia direta.

 

– (Uma das propostas é) Pedir que não venha dos grandes conglomerados econômicos o dinheiro que vai patrocinar das campanhas. Porque nós sabemos que boa parte daqueles que foram eleitos estão ali porque receberam aporte de grandes empresas – comenta Dom Gregório.

 

– No Brasil também há uma dificuldade muito grande de sabermos o que o partido político pensa, qual é a sua bandeira, o que ele está querendo apresentar para a sociedade. Nós queremos algo que já acontece em vários países que é (dizer): "votei nesse partido porque eu quero essa bandeira". E depois (votar) o candidato – continua.

 

O bispo Gregório ressalta que esta é uma iniciativa da igreja católica, mas que não em benefício próprio ou em benefício dos católicos.

 

– É importante lembrar que não é algo que vai proteger a igreja, nem tampouco é algo para os católicos, de forma alguma. É como a Ficha Limpa. O que nós estamos sugerindo é para a população brasileira. Estamos tentando é, já que os clamores da rua não foram ouvidos, dizer: "nós ouvimos esse clamor do povo e queremos sugerir alguma coisa, queremos começar alguma coisa". Porque não tenho dúvida nenhuma que, na hora que esse projeto for apresentado, muitos outros projetos vão aparecer – fala.

 

E é por isso que o movimento busca apoio também de entidades e organizações fora da igreja. OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Plataforma dos Movimentos Sociais, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, CUT (Central Única dos Trabalhadores), UNE (União Nacional dos Estudantes), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e a Frente Parlamentar pela Reforma Política são só alguns exemplos de apoiadores da iniciativa da CNBB.

 

– Mesmo grupos que não concordam com as propostas da igreja estão conosco. Embora pensemos diferente em termos de doutrina, nós pensamos de maneira muito parecida em matéria de desejo de transformação, de objetivo. Como falei, não é algo que estamos fazendo para proteger a igreja, nem para proteger A ou B ou qualquer grupo. É um projeto nacional para que nós tenhamos uma reforma política que realmente sirva a população como um todo – afirma.

 

Confiança

 

É difícil ver essa proposta e não ter pelo menos alguma dúvida que ela possa dar certo. Afinal, quantas vezes já se falou em reforma política? Quantas pessoas já não apresentaram propostas para isso? Mas até hoje ela não foi feita. A igreja, no entanto, não prende a isso. Prefere lembrar o bem-sucedido caso da Lei da Ficha Limpa, que entre o primeiro passo e a concretização da lei decorreu quase 15 anos, mas se transformou em algo na prática.

 

– Temos que acreditar sempre. O importante é não sermos omissos nas situações. Então nós acreditamos que vamos conseguir refletir o clamor das ruas, o clamor da população e vamos conseguir as assinaturas. Nós queremos colaborar. Porque, no fundo, os governos querem fazer a reforma política, as pessoas querem a reforma política, a sociedade como um todo quer a reforma política, mas ninguém dá o primeiro passo. Então a igreja está oferecendo uma reflexão – coloca Dom Gregório. E se dessa forma conseguir envolver pessoas que se afirmam desacreditadas com a política, melhor.

 

– Além de evangelizar, a igreja também é formadora de opinião pública, sabemos disso. E a igreja tem como obrigação, como fez Jesus Cristo, quando enfrentou Herodes, rei da época, quando enfrentou Poncio Pilatos, enfrentar o poder, não apenas pessoas, mas o poder instituído que prejudica a população. Jesus teve coragem de enfrentar esse poder. Então nós, como igreja, não queremos enfrentar pessoas. Nós queremos propor algo para transformar a sociedade como um todo. E ao mesmo tempo, convidar a todos para fazer política. Porque nós somos seres políticos, fazemos política o tempo todo, quando reclamamos de um supermercado que está com preço alto, quando reclamamos de uma notícia que não gostamos – destaca.

 

– Colaborar com a transformação. Tirar do poder pessoas que roubam o tempo. E ao mesmo tempo, criar um sistema político que seja mais justo para todos – resume o bispo Dom Gregório Paixão.




 

 

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