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  Cidade convive com a rotina de alagamentos

Data: 05/01/2020

 

Cidade convive com a rotina de alagamentos

LUANA MOTTA - Redação Tribuna de Petrópolis


Apesar da previsão de chuvas fortes e da repetição dos locais de retenção de água, o problema não é evitado.

O alagamento em ruas no período de fortes chuvas no verão não é novidade para os petropolitanos. Na tarde da última quinta-feira, somente no Centro, pelo menos dez ruas ficaram alagadas. Com um volume de quase 200 mm em cerca de quatro horas de chuva, os três primeiros distritos pararam. Ônibus tiveram o itinerário transferido, pedestres buscaram abrigo em lojas e marquises, veículos de passeio buscavam rotas de fuga, e comerciantes acionavam as comportas para evitar que a água invadisse os estabelecimentos. Ainda que a chuva estivesse prevista desde o início da quintafeira, a cidade não estava preparada para o temporal.

Nas ruas no entorno da Catedral São Pedro de Alcântara testemunhas disseram nunca terem visto um alagamento naquela proporção. O Rio Piabanha no limite, mas as ruas interditadas. A ligação Avenida Ipiranga e Avenida Koeler se transformou em um mar. Pedestres tentavam se arriscar passando sobre os canteiros. Em direção aos bairros, as ruas 7 de Abril e Paulino Afonso sem passagem para veículos, também alagadas. Na Rua do Imperador, em vários trechos, os canteiros desapareceram, a água subiu até metade da Alencar Lima.

Mas o pior trecho foi no entorno do Terminal Rodoviário do Centro. A correnteza que se formou nas ruas Silva Jardim, Benjamin Constant somado ao transbordamento do rio Palatinado na altura da Rua Souza Franco alagou a Rua Caldas Viana alcançando a Praça da Inconfidência. As linhas de ônibus da Viação Cascatinha que fazem ponto no trecho foram transferidas para o Terminal Centro. Que também estava alagado por conta da água que vinha das ruas adjacentes e a sobrecarga sobre o telhado que criou cascatas em vários pontos do Terminal.

O comerciante Ítalo José de Carvalho, é proprietário de uma casa de ração na Rua Caldas Viana há 20 anos, e disse nunca ter visto um alagamento como o que aconteceu na quinta-feira. “A água subiu duas vezes. A primeira subiu como sempre acontece quando chove, nós já até esperamos e colocamos as comportas na porta da loja. Mas dessa vez a água subiu duas vezes. Na segunda foi pior”, disse. O comerciante não teve prejuízos porque disse já estar precavido, mas outros comerciantes tiveram que descartar mercadorias que foram atingidas pela água.

Na quitanda da Ana Carolina Carvalho todas as verduras foram descartadas. Só conseguiu aproveitar os produtos que ficavam em prateleiras altas que não foram atingidas pela água. “Aqui é comum encher, mas duas vezes no mesmo dia não esperávamos”, disse.

Para a engenheira e presidente do Comitê Piabanha, Rafaela Facchetti, um dos fatores que podem ter causado o alagamento no trecho é a falta de escoamento e microdrenagem. “Petrópolis precisaria ter equipes para fazer trabalhos preventivos de limpeza dos bueiros. O que vemos em grandes cidades são equipes técnicas que trabalham com concessão com governo municipal e fazem a limpeza e o manejo de águas pluviais preventivamente”, disse.

Em Petrópolis, o trabalho é feito pelo setor de manutenção viária da Secretaria de Obras. Segundo a Prefeitura, o trabalho é feito de forma manual, com a retirada de lixo e folhagem que atrapalham o escoamento da água, ou então com uso de um caminhão-jato, em caso de obstrução mais intensa.

A Secretaria foi questionada sobre quando foi feito o trabalho de limpeza nos bueiros da Caldas Viana, mas não informou.

Os comerciantes da rua dizem que o alagamento no trecho piorou após a redução dos bueiros que haviam na via. “O ideal era que fizessem mais bueiros ou bocas de lobo na beira do rio. Toda vez que chove forte alaga a rua. Antes quando tinham os bueiros por toda a extensão da rua acumulava água, mas dava vasão”, disse Ítalo.

“A cidade tem inundações desde sempre. Não é pontual, não adianta pensar em um elemento só para Petrópolis. Precisa pensar um projeto todo integrado, de manejo de águas pluviais para que não seja desperdiçada. Tem problemas de encostas, áreas de risco que precisam de obras, desocupação de áreas de risco. Precisa de planejamento integrado, as chuvas de ontem (quintafeira) só provam isso, a cidade não está preparada para as chuvas”, disse a presidente do Comitê Piabanha.

Para Rafaela, o trabalho de pronta resposta para esses desastres têm que ser feito, como foi feito nesta última chuva, mas a prevenção precisa ser priorizada. “As chuvas de verão são previsíveis, vamos precisar em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo fazer um trabalho de resiliência para estar preparado para as chuvas. Os pluviômetros de garrafa pet precisam voltar para as comunidades, para ter o alerta mais rápido”, exemplificou. Segundo Rafaela, essas inundações e alagamentos acabam onerando não apenas o comerciante que muitas vezes é prejudicado, mas o próprio governo municipal em termos de mobilização de equipes para limpezas públicas.

A Prefeitura foi questionada sobre o trabalho de limpeza e desobstrução de bueiros e disse que nos últimos meses, o trabalho passou por ruas de bairros como Centro, Meio da Serra, Vale do Carangola, Itaipava, Castelânea e Estrada da Saudade. 



Fotos:
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Nem mesmo a capacidade de escoamento das águas para o Rio Palatinato impediu o alagamento da Rua Caldas Viana.
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Comerciantes antigos do local, relatam que parte dos bueiros que ocupavam toda a largura da rua foram tampados.
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Sem capacidade de escoamento, a Caldas Viana ficou completamente alagada, atingindo o comércio local


 

 

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