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  Pesquisa estuda novo teste para diagnóstico precoce do câncer de mama

Data: 05/12/2008

O câncer de mama mata cerca de 10 mil mulheres por ano no país. O número de vítimas dessa doença, que ameaça a saúde pública das brasileiras, poderia cair consideravelmente se o diagnóstico fosse feito com mais antecedência. Esse é o objetivo da pesquisa de dois marcadores moleculares em NAF e na saliva e a análise de imagens em mulheres com risco para câncer de mama, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que recebeu o apoio da Faperj(Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), por meio de um APQ1, que é o auxílio à pesquisa, concedido com a finalidade de apoiar projeto conduzido por pesquisador com título de doutor ou equivalente, vinculado à instituição de ensino e pesquisa sediada no Estado do Rio de Janeiro.

 

“A maioria dos casos de câncer de mama ainda é diagnosticada tardiamente, quando a doença está em estado avançado“, alerta Gilda Alves, chefe do Laboratório de Genética Aplicada do Inca e coordenadora do projeto.

 

Para ajudar a reverter essa situação, a pesquisadora desenvolve com sua equipe o estudo de um novo teste que, se aprovado, será uma arma valiosa para o diagnóstico precoce do câncer de mama. Um dos materiais da pesquisa é o Nipple Aspirate Fluid (NAF). A sigla em inglês refere-se ao fluido presente no sistema ductal e lobular da mama, a partir do qual podem ser feitos testes com DNA e proteínas. O NAF existe na mama de todas as mulheres, mas é continuamente reabsorvido em não grávidas ou em mães que estejam amamentando. Em algumas mulheres, porém, há um vazamento espontâneo de NAF e, ao procurarem um ginecologista, elas são encaminhadas a exames da mama que geralmente não acusam nenhum mal.

 

“O ginecologista costuma pedir exames citológico, para ver se tem alguma célula maligna na mama, e radiológico, seja ultra-sonografia ou mamografia, para ver se a imagem mostra algum sinal de tumor. Contrariando os resultados, que geralmente dão negativo, algumas dessas pacientes desenvolvem câncer de mama ao longo dos anos”, explica a bióloga, PhD em Genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que estabeleceu parceria com o Hospital Gaffrée Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), onde é coletado o NAF dessas pacientes com perfil de risco.

 

O NAF espontâneo (secreção espontânea) é um sinal descrito em 10% a 15% das mulheres com doença benigna da mama, mas em 2,5% a 3% dos casos está relacionado ao carcinoma (tumor maligno). É o sintoma mais freqüente, depois do nódulo e da dor mamária, constituindo cerca de 7% das queixas das pacientes.

 

“Nossa pergunta é se conseguiríamos nesse estágio, em que geralmente não se detecta o câncer pelos exames de citologia e radiologia, encontrar algum marcador molecular no NAF que pudesse indicar que aquela mulher pode vir a ter um tumor”, diz Gilda Alves.

Os marcadores moleculares do NAF que estão no alvo da pesquisa (o HER-2 e o TP53/p53) representam sinais do câncer de mama. Outro fluido adotado é a saliva, cujo conjunto de proteínas (secretoma) possibilita o estudo de marcadores tumorais que circulam na corrente sangüínea. O HER-2 foi selecionado para análise devido a sua concentração – cerca de cinco vezes maior na saliva de pacientes com câncer de mama, em relação à saliva das pacientes saudáveis.

 

“Um dos objetivos específicos da pesquisa é verificar, no NAF e na saliva das pacientes, o aumento da expressão de HER-2 pelo método de Elisa", conta.

 

O câncer é conseqüência da multiplicação desenfreada das células. O gene supressor tumoral TP53 foi escolhido para o estudo porque está relacionado à divisão celular. Esse ciclo funciona a partir dos papéis opostos desempenhados pelos oncogenes e pelos genes supressores de tumor, que controlam a velocidade e a forma como a célula se divide.

 

“É como a direção de um carro, que depende do acelerador e do freio. As células têm que se dividir na hora certa e precisam de estímulo dos oncogenes e de inibição por parte dos genes supressores de tumores”, explica Gilda. E prossegue: “No tumor, ocorre um grande estímulo dos oncogenes e os genes supressores tumorais são perdidos, o que resulta na divisão descontrolada das células. Procuramos justamente as mutações no gene TP53, uma das lesões mais precoces do DNA em casos de câncer de mama”.

 

A análise molecular desses marcadores, associada à avaliação das imagens de ultra-sonografia de alta freqüência, pode melhorar o diagnóstico precoce e identificar mulheres em risco de desenvolver câncer de mama, aumentando as chances de cura e diminuindo os custos psicológico, social e econômico do tratamento de um tumor avançado. As amostras são coletadas de maneira prática.

 

“A extração do NAF é estimulada através do auto-massageamento da mama pela própria paciente. O exame é indolor e não invasivo, já que o material é coletado em Guthrie cards, o mesmo cartão utilizado para o teste do pezinho em recém-nascidos”, esclarece a pesquisadora.

 

A descoberta da doença em fase inicial proporciona grande chance de cura e oferece a possibilidade de um tratamento não mutilador. O tratamento principal, no entanto, continua sendo o cirúrgico, com ou sem radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. O câncer de mama apresenta manifestações clínicas, como alterações no tamanho ou forma dos seios; secreção nos mamilos ou sensibilidade; alteração na pele da mama, na auréola ou no mamilo, entre zonas mais quentes, inchaço, vermelhidão e escamação da pele; e presença de nódulo, acompanhado ou não de dor mamária.

 

Mas a doença pode ser assintomática, o que reforça a necessidade de uma prevenção constante.

 

“A idéia da pesquisa é oferecer um teste complementar aos exames de detecção tradicionais, que jamais podem ser descartados”, ressalta Gilda. “Todas as mulheres devem fazer o auto-exame nas mamas mensalmente, um exame clínico e uma mamografia anual a partir dos 40 anos. Entretanto, as pacientes pertencentes a grupos com risco elevado de desenvolver câncer de mama devem fazer uma mamografia anual a partir dos 35 anos”.

 

 

Fonte: Diário de Petrópolis – 5 de dezembro de 2008

Autor: Ascom da Faperj




 

 

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