Petrópolis, 28 de Março de 2024.
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  NÃO QUERO SER REFÉM DO LULA

Data: 21/09/2016

 

Denilson Cardoso de Araújo
 
Desde que eu disse esta frase do título a primeira vez, num debate logo após sair do PT em fins dos anos 1990, a repeti várias vezes. Vendo de agora, alguns acharam ter sido premonição o que fora só exercício de lógica. Passáramos a vida petista até então combatendo certos adversários, levantando certas bandeiras, prezando certo tipo particular de democracia, dizendo que jamais faríamos certas maldades que víamos em outros partidos e partidões, e lutando por ética na política. E, de repente, Lula estava no colo de Sarney, Collor e ACM, o não pagamento ou a auditoria da dívida externa fora pro lixo, os divergentes internos foram esmagados e expulsos, modos sujos de ganhar eleições passaram a ser adotados e jeitos imundos de manter-se no poder viraram rotina. Isso bem lá atrás, quando só se tinha ainda prefeituras. Daí, nas eleições seguintes, veio a Carta aos Brasileiros, em que Lula rasgou de vez o programa do partido. Ora, como isso tudo podia dar certo depois? Deu na beira-caos em que vivemos.
 
Fará bem ao PT livrar-se do fantasma de um Lula Perón. Mas a capivarada que ele fez, ao escolher um poste como sucessora, meteu o PT nesse beco sem saída. A opção, claramente desastrosa, fez todos os militantes reféns da luta por um mandato sem sentido, pela presidência sem comando e habilidade para carregar nas costas a esperança já vilipendiada em populismo barato. Veio a campanha imunda de 2014, onde “fez-se o diabo”, como Dilma prometera. Veio a guerra do impeachment e o lamentável discurso marqueteiro do “golpe”. Agora o PT, em plena luta de sobrevivência política, se vê chantageado a tentar salvar os frangalhos de um Lula que se pôs no cadafalso pela arrogância dos próprios erros. Fim triste para tanta gente que cultivou lutas virtuosas sem saber que seriam mal usadas. Gente que sacrificou famílias, gastou dinheiro que não tinha, perdeu empregos lutando por um ideal que termina assim, de trágica forma. Repito que ainda há gente boa no PT. Estive lá e ainda sei dessas pessoas honestas. Mas perderam o timing de pular fora, e agora se sentem acuadas a não abandonar o barco em naufrágio. Mas se Lula é o naufrágio, que joguem Lula ao mar! O PT precisa renascer e não é com Lula que o fará. Aliás, nem sei se é o caso do PT renascer, ou de outra esquerda se reinventar, porque esse monopólio que o PT aparelhou em todas as representações populares acabou sendo uma ditadura de partido único à esquerda, que calou vozes preciosas que não podiam divergir para não atrapalhar o que achavam ser “projeto maior”. Projeto este que, agora se vê, era politicamente desonesto, estrategicamente errado e eticamente podre.
 
No discurso pós denúncia do Ministério Público, Lula se pôs no molde do cisne que se sabe moribundo mas precisa morrer com canto espetaculoso. Urrou como nunca, reiterando sandices como ser ele a alma mais pura do Brasil e políticos os profissionais mais honestos, desancando quem faz carreira por concurso público, e se pondo abaixo apenas de Jesus Cristo. Pior, pregou a salvação das próprias carreira e liberdade – pois há risco de ir preso – como bandeira de luta partidária, querendo todo o PT como réu do Sérgio Moro. Chantagem grossa. Pobres candidatos petistas nessas eleições, compelidos a defender o indefensável. Não caiam na armadilha, não sejam reféns. Até porque o PT precisa sangue novo, para varrer a sujeira que entope o sistema circulatório do Partido.
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