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  Aulas esquecidas de nossa história - Gastão Reis

Data: 23/11/2019

 

Aulas esquecidas de nossa história

Gastão Reis - Empresário e Economista

 

Foi lendo o livro de Heitor Lyra, “História de Dom Pedro II”, na década de 1980,que passei a me dar conta do segundo exílio, além do primeiro da Família Imperial, referente às boas práticas político-institucionais em que, ainda hoje, o Império supera a república com vários corpos de vantagem. Afinal, fomos da ré-pública à réu-pública sem res pública, um triste mas verdadeiro resumo do que foi nossa desastrada experiência dita republicana. Em outras palavras, um regime que só teve olhos para os interesses do andar de cima e não estava nem aí para a questão da desigualdade, a pior do mundo. Isto após estar vigente por quase o dobro de tempo que durou o Império.

Quando o presidente Obama venceu as eleições presidenciais americanas, a mídia toda exaltava o fato de ser o primeiro negro a chegar lá. Nada foi mencionado, em nossa histórica desmemória, sobre o Barão de Cotegipe, também mulato, que foi Primeiro-Ministro do Império, entre 1885-1888, um século antes de Obama. O “também mulato” é para registrar um vídeo em que Obama afirma não ser branco nem preto, mas mulato. Verdadeiro e honesto, ele não podia ignorar metade de seu sangue herdado de sua mãe branca.

É muito criticado nas redes sociais e na mídia alternativa o fato de a grande mídia não estar em sintonia fina com o Brasil real. O Estadão, por exemplo, pediu a demissão do ministro da Educação por ter tido a coragem de dizer que a república foi um golpe e que o Mal. Deodoro foi um traidor, mesmo julgamento, aliás, feito pela Princesa Isabel, que não o recebeu a bordo quando quis se despedir de Dom Pedro II e dela, que partiam para o exílio. O atual ministro da Infraestrutura, por sua vez, em entrevista, disse que o Brasil estaria em outro patamar se a monarquia tivesse sido mantida. Ascânio Seleme, em artigo publicado n’O Globo, de 21.11.2019, intitulado Aula de História em “The Crown” (excelente seriado!), nos relata um episódio entre a rainha Elizabeth II e seu Primeiro-Ministro trabalhista Harold Wilson.

Ascânio se refere à conversa confidencial do líder do Partido Trabalhista com a rainha, quando ele confessa que nunca havia feito trabalho manual na vida, e que havia estudado em Oxford, universidade por onde passa a elite inglesa. E ainda que trabalhava sua imagem pública de modo a se tornar mais popular embora seus gostos pessoais fossem mais do tipo “upper class”, ou seja, do andar de cima da sociedade inglesa em matéria de hábitos, comida e bebida.

Ao ouvir a rainha se queixando de sua incapacidade chorar em público, em revelar emoção diante do povo, Wilson lhe diz, para surpresa dela, que sua emoção contida seria uma dádiva, pois ninguém precisa de histeria num chefe de Estado. O articulista nos diz que é uma lição para Lula e Bolsonaro em seus destemperos verbais. O mesmo poderia ser dito em relação a Hitler e Mussolini, duas tétricas figuras movidos a toneladas de emoção maligna.

Caso Ascânio tivesse lido “Alegrias e Tristezas”, de Bruno de Cerqueira e Fátima Argon, uma aula de nossa História, poderia ter citado que a educação de Pedro II foi na mesma linha da rainha Elizabeth de emoções contidas, ainda que ele não chegasse a ponto de não conseguir chorar. Pedro II sempre se man-tinha calmo e disposto a reconhecer méritos até mesmo de republicanos. Quanto à Princesa Isabel, ela estava muito bem preparada para assumir o trono. Despreparada estava a república. Lições esquecidas de nossa História.

 

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