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  E SE A PRIMAVERA VOLTASSE? - Philippe Guédon

Data: 11/07/2019

 

E SE A PRIMAVERA VOLTASSE?

Philippe Guédon *

 

            Houve uma vez, há coisa de quarenta anos atrás, quando a Primavera aconteceu em Petrópolis e aqui permaneceu por estações e anos a fio. Depois se foi, e deixou saudades e gosto de “quero mais”.

            Naqueles tempos, foi eleito um prefeito e, enquanto aguardava a sua posse, chamou os primeiros aderentes do movimento das associações de moradores, nascidas das “feirinhas” de igrejeiros e dos ecos sobre a FAMERJ de Jó Rezende. Éramos, à época, uma dúzia, se tanto: Manoel Torres, Ingelheim, Duarte da Silveira, Mosela, Bingen, Centro, Capela, Itaipava e arredores (meia Petrópolis), pouquinhas mais. A Independência, que era o Alto, estava nascendo, assim como o Morro da Oficina, o Caetitu... Paulo Rattes e Anna Maria recebiam a companheirada na casa da Ipiranga e diziam coisas assim: “Eu vou fazer um governo participativo. Organizem-se, pois hoje são dez, amanhã serão cem. Não contem com o apoio da Prefeitura, vocês precisam ser independentes e não o serão se forem financiados pelo Poder”. Música.

            A realidade superou as expectativas. As freqüentes reuniões tinham lugar em auditórios cedidos pelo Instituto Werneck; à cada vez, havia mais gente, de associações, organizações outras, partidos (quase todos os da época). E, frente ao povão, o prefeito e todo o seu secretariado. O que se falava e acertava, era confiado na hora à pasta certa, e virava ação em dias. Um exemplo? Os mutirões da COMDEP, presidida por Fernando Castro (Capela) que tinha como braço direito à Jacira, sua esposa, voluntária da causa participativa.

            O tempo escoado confirma que foi lindo. Chegamos a criar o Conselho das Associações (CAMPE), uma Fundação do Parque de Alta Tecnologia de Petrópolis e a organizar o primeiro Condomínio Industrial, o Oswaldo Cruz, em Itaipava. Governo e população valorizavam o que ocorria, amizades nasciam entre bairros e distritos e duram até hoje (Alcindo e Márcia da Independência, Sr. Antonio da Mme. Machado...). Vicente Loureiro publicou “O outro lado de Petrópolis”. As coisas ferviam, por aqui, e o céu era o limite; grandes empresários participavam lado a lado com com peões. Eu vi, eu vivi.

            A Primavera definhou e saiu de cena, é verdade. Moscas azuis, sim, mas também, a puxada de tapete das autoridades federais, que deixaram, por exemplo, a Fundação antes incentivada e louvada a se virar sozinha.

            Éramos felizes e o percebíamos; achávamos que seria para sempre, e aí nos iludimos. Mas nunca deixou de zumbir uma pergunta: o que impede que a Primavera volte? Será a Câmara profissional de excessiva e desmerecida influência? Os partidos milionários que não querem que se mexa no cruel status quo? Se assim for, lembro que bastam duas pessoas de boa vontade o quererem, para que nasça o diálogo. Naquele ano de 1982, foi um casal com mandato conquistado a propô-lo à uma dúzia de cidadãos e cidadãs. E morremos de saudades até hoje.

            Pergunto: enquanto ainda há memórias vivas daquela Primavera, por que não a trazemos de volta de vez? Aí, no futuro, outro velhote contará que um prefeito convidou doze petropolitanos para um papo em 2019 e daí surgiu a nossa Perene Primavera. E a bola de gude larga a rolar por aí e não para mais.

 

 

* Coordenador da Frente Pró Petrópolis - FPP




 

 

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