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  Impeachment não é solução

Data: 14/08/2015

 

 

Impeachment não é solução 

03/08/2015 - Carlos Alberto Di Franco, no O Globo de Domingo

Muitos leitores, aturdidos com a extensão do lodaçal que se vislumbra em cada novo capítulo da Operação Lava Jato, manifestam profundo desalento e o crescente desejo de que a presidente da República deixe o cargo. Sem ela, pensam com certo toque de ingenuidade, o Brasil seria outro. Entendo o sentimento.

Impõe-se, no entanto, um olhar de racionalidade. Dilma Rousseff é uma peça pequena da engrenagem controlada pelo ex-presidente Lula. Ele, sim, é o grande responsável pela crise econômica, política e moral que assola o País e sequestra a esperança de milhões de brasileiros. 

O impedimento é um processo extremo, traumático, imprevisível. E o pós-impeachment só beneficia um lado: Lula e o PT. Passam de vidraça a estilingue. Numa boa. O sucessor de Dilma vai receber um baita abacaxi. Passará todo o mandato lutando contra os efeitos da incompetência de Dilma Rousseff. Será fustigado pelo lulopetismo.

Finalmente, em 2018, se conseguir escapar da magnífica varredura do juiz Sérgio Moro, Lula, com cara limpa e banho tomado, Lula se apresentará como salvador da pátria. É isso que você quer, amigo leitor? É isso que pretendem os organizadores da passeata do dia 16?

Dilma Rousseff, com sua incompetência, despreparo e arrogância, fez o estrago. Pois bem, ela que se encarregue de segurar o rojão. Dilma está tentando. O ajuste fiscal é incontornável. E o que faz a posição? Vota contra. É uma vergonha!

O Congresso Nacional, não o de Renan Calheiros e Eduardo Cunha (que serão oportunamente enquadrados pela Justiça), tem importante papel de contraponto aos excessos do Executivo. Uma presidente limitada é uma coisa.

Outra, bem diferente, é a cassação do seu mandato. Não pagará a conta e cairá como vítima. É isso que você quer, amigo leitor? É isso que pretendem os organizadores da passeata do dia 16? 

O Brasil não vai encontrar seu eixo com o impeachment de Dilma. O que realmente importa é apoiar a grande virada que começou com o mensalão e avança com a Operação Lava Jato. O que você, leitor, pode fazer para contribuir para a urgente e necessária ruptura do sistema de privatização do dinheiro público que se enraizou nas entranhas da República?

Em primeiro lugar, pressionar as autoridades. O STF, por exemplo, deve sentir o clamor das ruas. Julgar os políticos envolvidos no Petrolão não é uma questão de filigranas processuais. É um dever indeclinável.A Corte Suprema pode dar o primeiro passo para a grande virada. Se políticos e governantes, responsáveis pela instalação de uma rede criminosa no coração do Estado brasileiro, pagarem por seus crimes, sem privilégios e imunidades, o País mudará de patamar.

Em segundo lugar, exija de nós, jornalistas, a perseverança de buldogues. É preciso morder e não soltar. Uma democracia constrói-se na adversidade. O Brasil, felizmente, ainda conta com um Ministério Público atuante, uma Polícia Federal republicana, um Judiciário, não obstante decepções pontuais, bastante razoável e uma imprensa que não se dobra às pressões do poder. Chegou a hora da sociedade civil mostrar sua cara e sua força.

 

O Brasil pode sair deste pântano para um patamar civilizado. Mas para que isso aconteça, com a urgência que se impõe, é preciso que os culpados sejam punidos.




 

 

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