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  O clarim de Roger Scruton - Gastão Reis

Data: 18/01/2020

 

O clarim de Roger Scruton 

Gastão Reis - Empresário e Economista


Certamente, quem já leu algum livro de Roger Scruton, mesmo discordando de sua visão de mundo conservadora, reconhece a qualidade e profundidade de seus argumentos. A má notícia foi seu falecimento relativamente precoce, aos 75 anos, em 12 de janeiro corrente, de câncer. De pouco conhecido, passou a ser uma espécie de celebridade editorial no Brasil com vários livros publicados. Dentre os mais citados, podemos enumerar “O que é conservadorismo”, “Como ser um conservador”, “A alma do mundo” e “O rosto de Deus”. Muitos outros, entre os 50 que escreveu, merecem leitura atenta.

Ele deu importante contribuição ao momento vivido pelo país no sentido de superar a visão primitiva de ver no conservador a figura do atrasado, muito comum nos textos e artigos do expresidente FHC. Scruton combateu a esquerda em sua pretensão de dona da verdade e de ser a única e legítima porta-voz das aspirações populares. A desilusão da população, vítima da corrupção sistêmica do PT, fez com que ela se desse conta, via redes sociais, de não ter quem a representasse. E foi então buscar em Bolsonaro a bandeira de valores conservadores que a esquerda pensava ter enterrado de vez.

Roger Scruton bate na tecla da mudança consistente, aquela que realmente leva a ganhos permanentes para a sociedade. Ele prefere aquelas oriundas do que deu certo no passado, mas sem fechar as portas para mudanças mais ousadas desde que capazes de proporcionar benefícios reais. Ele cita Edmund Burke que dizia: “Reformamos para conservar”. Ou seja, uma árvore pode ser podada, mas ela não sobrevive se lhe cortarem as raízes. Burke afirmava que a Revolução Francesa promovia a minuciosa destruição da capacidade de o ser humano compadecer-se do próximo. E acertou na mosca ao prever O Terror.

Nessa linha, Scruton, em entrevista, nos chama a atenção para o que ocorreu na Revolução Russa e na Nazista, que padeceram do mesmo mal. E que acabaram em genocídios sobejamente comprovados por crimes contra a humanidade cometidos por Stálin e Hitler. O pensamento conservador reconhece a precariedade do ser humano, o pecado original de que nos fala a bíblia. E daí não acreditar em paraísos terrestres.

A visão de mundo, ou mundividência, do conservador é o amor pelo real. Scruton se irmana a Hannah Arendt, em seu magistral “A promessa da política”,quando ela nos revela que o totalitarismo, corporificado no comunismo e no nazismo, rompe com a tradição de dois mil anos dos gregos de reconhecer a existência e a liberdade daquele que discorda de mim, um princípio sagrado para Rosa Luxemburgo. Na verdade, Scruton nos fala do risco de jogarmos fora nossas identidades como seres sociais. A cultura clássica, em sua visão, não retrata apenas os valores da classe dominante, como quer nos fazer crer a ideologia marxista, em especial os arautos da Escola de Frankfurt. Merece ser transmitida por conter em si conhecimento sólido proveniente de nossas raízes.

O cientista político e escritor português João Pereira Coutinho reforça a linha de pensamento de Roger Scruton ao rebater, com veemência, a pecha de imobilista ao conservador. Diante de qualquer novidade, o progressista se entusiasma com o “Por que não?” ao passo que o conservador sempre se pergunta “Por que sim?” Essa preocupação de investigar antes de aceitar é muito saudável para evitar equívocos e erros cometidos pelas sociedades.

Acredito que o argumento de maior peso a favor do conservadorismo, que não se nega a dialogar com os progressistas, é que sociedades de perfil bastante conservador, como a inglesa e a americana, nunca se constituíram em baluartes do atraso. Muito pelo contrário. Nos últimos séculos, foram sociedades inovadoras e de forte espírito empreendedor. Conservadorismo, inovação e progresso souberam se entender em prol da humanidade.

 

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