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  O LAGO DOS CISNES - Philippe Guédon

Data: 07/12/2019

 

O LAGO DOS CISNES
Philippe Guédon *

Brasília lembra o balé “Lago dos Cisnes”. No palco, parlamentares que sorriem, pulam, evoluem e passam ao público calado, anônimo, lá embaixo e no escuro a imagem da alegria do bem-viver no meio das cores, luzes e melodias. O papel da platéia é pagar e bater palmas.
Cito fatos: a Assembleia Constituinte de 1987-1988 foi composta por partidos, e só partidos. Ouviram os segmentos da sociedade que quiseram; o povão poderia ter falado ao ensejo de um referendo, mas a Constituição-Cidadã não usou do mecanismo. Tendo assento na Assembleia por pertencerem a um partido com bancada no Congresso, os Constituintes adotaram como lema a ironia que recomenda a Mateus cuidar dos seus em primeiro.
E com que zelo o fizeram, no texto constitucional e nas Leis que se seguiram. Deram aos partidos, pessoas jurídicas de direito privado, o monopólio de selecionar candidatos e mais o direito de elaborar estatutos e outras normas operacionais em caráter “interna corporis”, ou seja, ninguém de fora pode se intrometer. O que não os impediu de criar um Fundo partidário para custear a sua vida interna e, há pouco, um Fundo Eleitoral para pagar as suas campanhas, a pretexto de não praticarem mais ilícitos como o caixa 2. Ferramentas do povo para a prática democrática, ignoram a democracia interna e, generosos, não cobram contribuições dos filiados dignas de menção. Claro que há exceções, o Partido Novo em destaque. Os dirigentes se perpetuam em seus cargos por décadas; quando não uma pessoa, pois uma família, ou os membros de um núcleo duro onde quem está dentro não sai, e quem está fora, não entra. Criaram a cláusula de barreira em nome da governabilidade, e também para repartir a grana dos Fundos entre menor número de convivas do regabofe. E, também, porque cartel bom é cartel de poucos, baixem o som e apaguem a luz. Copiemos a omertà.
Os partidos contam com 17 milhões de filiados (em verdade, bem menos, pois o TSE não exige recadastramentos com consulta aos filiados). Como termos 147 milhões de eleitores, estes se dividem em 11,5% de filiados e 88,5% de não-filiados. Os primeiros poderiam participar da seleção dos candidatos (em tese), e os segundos são proibidos de fazê-lo. Ou seja, temos dois colégios eleitorais nas nossas eleições diretas. Curioso.
Agora as bailarinas do Lago fecham a rodinha: todos os brasileiros, contribuintes na marra, eleitores ou não, filiados ou não, pagam a festa. Desde o ancião até o recém-nascido, do ricaço ao ferrado. Dinheiro “público” coisa nenhuma, dinheiro tirado do povo e dado aos partidos. Quanto? 3,8 bilhões para as eleições a cada dois anos, seja 1,9 bi por ano. Mais o Fundo Partidário, que alcançou 1 bi em 2019. São 21 os partidos que passaram pela cláusula de barreira, tirem o Novo, ficam 20. A cada ano, em média, cada um mama à volta de 150 milhões. Dá para entender a alegria dos Cisnes no Lago, dos parlamentares no Congresso, dos dirigentes nos partidos.
Nós cavalinhos correndo e os cavalões comendo.

* Coordenador da Frente Pró Petrópolis - FPP



 

 

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