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  O caos eleitoral

Data: 27/05/2014
 

O caos eleitoral

Criado em Terça, 27 de Maio 2014

 

A campanha eleitoral de 2.014, cujo primeiro ato será representado pelas Convenções a serem realizadas pelos 32 partidos entre 10 e 30 de junho corrente, já corre solta há meses.

Lançaram-se candidatos, fecharam-se coligações e apoios, passou-se a perna, efetuaram-se pesquisas de opinião, deixando pouca margem para os integrantes dos plenários das Convenções. Entre faixas e cabos eleitorais, bumbos e cornetas, os dignos participantes das Convenções vão ter que votar muita lista pré-montada por quem ficará nos bastidores. Difícil entender sistema menos respeitoso da inteligência alheia e da Constituição..

Uma primeira observação sobre um detalhezinho: Os apresentadores da TV, com a sua dicção perfeita e o semblante sério que a ocasião exige, esclarecem que a pesquisa de opinião que está para ser apresentada contempla uma margem de erro de X% “para mais ou para menos”. Nunca entendi esta informação, pois se margem há, ela tanto pode ser para cima como para baixo. Se fosse só para cima ou só para baixo, caberia informá-lo, mas sendo válida nos dois sentidos, a citação do percentual da margem basta. Vejo nesta pequena tolice o sinal de abertura do triste festival eleitoral entortado.

Eu sei que sou da velha safra de 1932, aliás excelente... Não posso me impedir de filtrar a realidade através dos valores e hábitos que marcaram a minha infância e juventude, o que pode ser bom aqui e ruim acolá. Mas, em particular, a moderna falta de lógica me incomoda, ainda mais quando é cometida com a tranquila arrogância de quem se sente acima do bem e do mal.

Vejam: duas ou mais empresas acertam os seus ponteiros antes de uma licitação, Esta prática denota um cartel e é ilícita. Dois partidos acertam os seus ponteiros antes de uma eleição. Estamos diante de uma coligação, coisa muito natural e até desejável.  Sabem, a governança?

Não temos médicos desejosos de ir trabalhar no interior em número suficiente. Pois atropela-se a legislação profissional e trabalhista e trazem-se médicos do Exterior em condições atípicas. Isso pode. Por outro lado, os candidatos indicados pelos 32 partidos não atendem aos interesses do povo. Este quer introduzir mais um, ou dez, ou mil. Não pode. Porque, neste caso, o monopólio é permitido e é defendido com unhas e dentes. A norma constitucional que afirma que “todo o poder emana do povo” vira suco, aqui, em proveito dos partidos. Candidato avulso não pode. Por que não pode?

Um industrial lança um produto na praça e pleiteia a eliminação de seus concorrentes para ter a reserva de mercado. A pretensão é vista como descabida e será rechaçada pelo CADE. 32 partidos – pessoas jurídicas de direito privado – se concedem o exclusivo direito de selecionar candidatos. A prática é vista como salutar e é acolhida pela Justiça. O poder do povo? Dançou.

Não tendo o que fazer, o Congresso debate a Lei da Palmada, insuportável invasão nos lares. Pretextando excesso de trabalho, este mesmo Congresso não vota o fim do monopólio eleitoral concedido ao “cartel” dos 32 partidos. Cada um estabelece as suas prioridades, conforme a sua sensibilidade.

Deu para entender? Espero que não, pois tudo isso é absurdo e não resiste a mais superficial das análises. Eis a razão da decadência ética e de governança que constatamos todos os dias.

Data a máxima venia.

 

 

Philippe Guédon




 

 

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