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  AQUI NÃO ACONTECERIA!

Data: 13/02/2017

 

AQUI NÃO ACONTECERIA!

Philippe Guédon *

 

            Vivemos crise econômica, política, social e ética. Muitos, como eu, acreditam ter sido gestada pela gula dos partidos políticos quando da elaboração da Constituição de 1988; a voracidade das bancadas na Assembléia Constituinte foi tanta, que gerou um sistema eleitoral baseado no monopólio de seleção de candidatos reservado aos partidos, espetada a conta do financiamento das campanhas no gancho dos eleitores. De ferramentas, os partidos se promoveram a protagonistas. Se o caos bate às nossas portas, não pode ser surpresa.

            Melhor do que longos arrazoados, um pequenino exemplo bem mostra como se lixam os vereadores pelo miserê popular. O fato me foi narrado como tendo sucedido em município atrasado; nem poderia ter ocorrido onde as pessoas sabem das coisas.

            Pois não é que a Câmara lá deles resolveu adquirir 104.000 selos, sejam 8.000 por mês e o dobro em dezembro, paradoxalmente quando o recesso engole a metade do mês? E olhem que os edis dispõem de internet, e-mail, facebook, linkedin, whatsapp, twitter e outras modernidades.

            Em tempo de vacas magras (as do povo), torraram um total de R$ 176.800,00 em selos. Sei lá, mas deve ter gerado um escândalo brabo na cidadezinha, certamente carente de um monte de serviços públicos, quem sabe até de planejamento e vergonha na cara? Vai ver que, lá também, as UPA´s estão enroladas, as contas atrasadas, o RPPS prestes a implodir. E compram selos; ao que me dizem, na Câmara lá deles, ninguém reclama dos escândalos. Não dá para um petropolitano entender!

            Eu, se lá morasse, proporia um teste: colocaria um envelopa em branco à frente de cada edil e pediria que preenchesse o endereçamento. Pois quem usa selos, endereça, certo?

            Tudo bem, cartões de Boas Festas ou feliz aniversário, quando sinceros, são simpáticos. Mas qual a razão do povo pagar o auê? Quando um cidadão quer comprar um selo, paga por ele. No caso, o povo de lá paga os seus e os da Corte.  

            Esta mesma quantia poderia servir para manter um médico do programa Mais Médicos ao longo de todo o ano, e ainda sobrariam recursos para contratarem uma professora a mais.

            Dependendo das necessidades do referido município lá de Deus me livre, poderia a soma empregada no container de selos ser utilizada para custear entre três e quatro professoras do ensino fundamental. Ou, quem sabe, admitindo que uma merenda escolar custe três reais, em vez dos selos de parabéns pelo aniversário de eleitores, poderíamos adquirir os ingredientes necessários à confecção de 58.900 merendas escolares? Ou 88.300 refeições, se custarem duas pratas?

            Fica outra pergunta, para o pessoal lá de Onde o Vento Faz a Curva responder: como será feito o controle desta montoeira de selos? Os vereadores de lá prestam contas?

            São coisas que acontecem ainda nos cantões do interior, onde se encontram populações primitivas. Ah! “Como é bom viver aqui!” A gente entende porque um Prefeito nosso, lá pelos idos de 2005, resolveu marcar com estas fortes palavras a sua administração (chutando para o olvido o insosso “é tempo de participação” anterior).

 

            Lá não deve ter DO que tudo publica, fora a Lei Orgânica e o Regimento Interno. Se fosse aqui...

 

* Coordenador da Frente Pró-Petrópolis




 

 

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