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  Todo mundo acha que sabe tudo - Denilson Cardoso de Araujo

Data: 05/10/2019

 

Todo mundo acha que sabe tudo

Denilson Cardoso de Araújo - Escritor

 

Quando recebo críticas sensatas, é comum que a elas me curve. Como dizia o Barão de Itararé, “triste não é mudar de ideia, triste é não ter ideias para mudar”. Noutras vezes, recebo críticas respeitosas, de gente com ideias. Mas que não rompem a barreira da mera opinião divergente. Daí ficamos, cada qual no seu quadrado, com suas ideias. Mas tenho recebido de uns tempos para cá comentários, digamos assim, rosnados, de doutores das Faculdades Zap... Donos da verdade pós-graduados na Universidade Face. Filósofos da Academia Google. Sábios do Instituto Twiter. Gente sem ideias de verdade. Parte do que vem é insulto, outra é deboche, e há muita ignorância mesmo. Como se um post de dez linhas de conteúdo duvidoso, replicado de alguma dessas seitas políticas muito em voga, fosse capaz de apagar todas as bibliotecas. Como se memes engraçadinhos pudessem reescrever a história em versão amalucada em que Hitler é herói, Gandhi é “comunista” e Raoni é um idiota manipulável ou mesmo um bandido. Fake news como incontestáveis verdades. É o que de mais grave vejo ocorrer nesses tempos difíceis. Traços de obscuridade, que tentam nos impor uma Idade das Trevas onde um zap vale mais do que uma pós-graduação. Território do achismo, onde a falta de cultura, o desconhecimento científico e a carência de ideias se tornaram medalhas de honra.

Acho essas brigas de rua da internet parecidas com um circo romano. A violência que fazia o Coliseu vibrar é parecida com os linchamentos virtuais. Pessoas vão às redes sociais como gladiadores, para matar ou morrer. Pais de família tranquilos viram cortadores de cabeça, com comentários agudos. Doces mães confeiteiras de mão cheia, de repente enchem o coração alheio de facadas cruéis, com compartilhamentos sanguinários. Existe uma sangueira moral, invisível, que escorre das redes. Pior é que autores desses gatilhos velozes, de sórdidas palavras e gratuitas agressões, às vezes reclamam dos filhos que em games de combate, arrancam cabeças a tiros. Estamos ficando uma sociedade doente. Por isso, sempre aviso e reitero. Não entro em brigas de rua, não tenho vocação para gladiador, nem desfaço amizades por causa de política. Amizade assim desfeita, jamais amizade foi. Mas não saio das redes, como fez o Padre Fábio de Mello, por exemplo, que disse querer “preservar a sanidade”. Olho as brigas de longe. Até busco apartá-las. Quando invadem meu território, meus posts e textos, com insultos travestidos de comentários, encerro rápido a discussão, normalmente optando por não discutir. A pessoa que insulta ou agride quer ter a última palavra? Que tenha. Tenho mais o que fazer.

Todo mundo hoje acha que entende de tudo. As pessoas não percebem a distinção entre informação, conhecimento e sabedoria. Somos a geração mais informada de todos os tempos. Mas conhecimento é outro degrau. É informação sistematizada, provada e estudada. E sabedoria é conhecimento meditado, apreendido e vivido. Solução para esses tempos de falsos sábios, seria termos presente o dito de Sócrates, um homem que sabia tantas coisas, mas que ficou conhecido pelo dito que virou brocardo de alunos ansiosos que não estudaram para a prova: “Só sei que nada sei”. Ou ainda lembrarmos Confúcio, que dizia: “O verdadeiro conhecimento é reconhecer que sabemos o que sabemos, e que não sabemos o que não sabemos”. Mas isso exige discernimento, e certa dose de humildade. Coisas tão em falta hoje em dia. 


denilsoncdearaujo.blogspot.com.
 



 

 

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