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  A desmoralização da esquerda brasileira - Randolpho Gomes

Data: 08/08/2019

 

A desmoralização da esquerda brasileira

Randolpho Gomes - Advogado

Tribuna de Petrópolis


Sou testemunha da época em que a esquerda brasileira, então representada principalmente pelo PCB (partidão), gozava de credibilidade nos meios intelectuais, estudantis, sindicais e empresariais. Era respeitada até por setores das Forças Armadas e tinha dentre seus membros alguns integrantes dela, de alto coturno.

A linha política do Partidão pregava a construção de uma Frente Única que uniria desde a burguesia até o campesinato, lutando em prol da instalação de um Governo Nacionalista e Democrático pela via eleitoral. Os militantes eram pobres, honestos, trabalhavam e estudavam. A linha política, no entanto, revelou-se uma utopia, como ficou demonstrado a partir de 1964. O desespero e a desilusão causados pelo movimento de 1964 levaram à desagregação do PCB e sua divisão em várias correntes, dentre elas o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, capitaneado por Apolônio de Carvalho, herói da Resistência Francesa na luta contra a ocupação hitleriana), e o fortalecimento do PCdoB, então dirigido por João Amazonas, homem honesto e simplório, firme nos seus ideais, mas destituído de grandes recursos intelectuais. Este último partido embrenhou-se na aventura da Guerrilha do Araguaia, pretendendo transplantar para o Brasil experiência chinesa que só deu certo lá, em circunstâncias históricas absolutamente diversas. A corrupção não integrava os meios de luta política dos militantes da época.

A chegada ao poder de Lula, à frente do Partido dos Trabalhadores, mudou todo esse cenário. Embora encarnando alguns ideais da antiga esquerda, passaram a ocupar o Estado, como se fosse um ente privado. Aliaram-se a empresários corruptores, fazendo-lhes as vontades na obtenção de contratos e favores governamentais. Pretendendo perpetuarem-se no poder, orquestraram sistema endêmico de corrupção – o Mensalão é o primeiro exemplo - comprando votos e apoios em todas as áreas da administração pública. Instrumentalizaram os movimentos sociais, emoldurando-os dentro dos limites de seus desígnios de permanência no comando do Estado e do Governo. As empresas estatais, outrora símbolos da eficiência e do legítimo sentimento nacionalista, foram transformadas em biombos, ocupadas por militantes despreparados em seus quadros funcionais e convertidas em fornecedoras de dinheiro desviado para dirigentes partidários e para as organizações por eles comandadas. Essa atuação deletéria quase leva à falência a Petrobras, como hoje é sabido e outrora inimaginável. Os fundos de pensão dos servidores foram corroídos pela malversação de seus recursos e investimentos erroneamente dirigidos em prol da obtenção de vantagens individuais ou grupistas. Os antigos ideais da esquerda foram sepultados em montanhas de dólares e reais desviados dos cofres do erário.

Esse modo de atuar da “nova esquerda” levou à confusão entre ela e a corrupção e permitiu que bandeiras moralistas passassem a agregar os legítimos anseios populares, perfilando-os numa luta contra os desvios éticos e a roubalheira institucionalizada nos governos. Enquanto grassava a corrupção, o povo continuava pobre, carente, desvalido, desamparado, iludido, em busca de uma chama qualquer de esperança.

Esse cenário, confirmado pelos resultados da última eleição presidencial, bem demonstra a desmoralização da esquerda brasileira, agora conhecida como fonte de corrupção, desvios éticos e ineficiência.




 

 

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