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  PARTIDOS DE COSTAS PARA O POVO

Data: 28/10/2017

 

PARTIDOS DE COSTAS PARA O POVO

Philippe Guédon (*)

 

            Depois de se atribuírem todos os poderes que desejaram na Constituição que redigiram sozinhos, e de se assegurarem recursos fartos através da legislação que elaboraram sempre sem respaldo de referendo, os partidos resolveram que o povo era um mero detalhe e que o voto obrigatório exclusivamente nos candidatos apresentados pelas siglas já era democracia suficiente. Sim, os partidos voltaram às costas para o povo. O povo, dono do poder, ficou falando sozinho, e o Brasil virou o que conhecemos hoje, correndo risco de ainda ficar um tanto pior.

            Quando falo do completo divórcio entre os partidos e o povo, numa reedição agravada do fenômeno que Norberto Bobbbio observara na Itália nos anos 80, me refiro a um fenômeno que acompanhei de perto. Quando a participação floresceu em Petrópolis, entre os anos de 83 e 87, e o Prefeito Paulo Rattes mostrou como era viável e eficiente governar com o povo, pelo povo e para o povo, os auditórios onde se dava o freqüente diálogo Governo e Povo viviam cheios e todos os partidos da época, representados em Petrópolis, se faziam presentes. Eu vi, lembro e morro de saudades.

            Hoje, decorridos trinta anos, o povo de nosso Município desconhece os endereços das sedes dos partidos. Estes, nas poucas vezes em que se reúnem, restringem-se a convocar os seus filiados. Não vemos os partidos nos conselhos municipais, nas reuniões que a sociedade promove, nas audiências públicas, onde quer que o povo participe. Para que? O poder é dos partidos, o Fundo Partidário é deles, o voto é obrigatório e os caras têm que votar em Sicrano ou Beltrano, tudo gente do clã. Então, tchau e bênção.

            Excetuadas as parcas exceções de praxe, no caso, mais raras que mangueiras no Saara, os partidos sumiram. Só podem ser encontrados na Câmara Municipal, cuidando de suas vidas e de seus interesses; ou no Executivo onde zelam por seus interesses e por suas vidas. Tudo que poderia significar laços, pontes, diálogo com o povo (orçamento participativo, planejamento participativo, Instituto Koeller, leis orçamentárias discutidas nos distritos e bairros) foi para o arquivo morto. Neste instante interessa saber quem serão os candidatos do Município (ou de fora do Município empurrados goela abaixo) que os partidos incluirão nas suas “nominatas”. Tudo político calejado, mais um ou outro novato(a) regular de voto – bom para contribuir com os bacanas mas não o suficiente para ameaçar os candidatos oficiais – e sem que ninguém tenha direito a pitaco, nem a Convenção que aplaudirá as decisões da Executiva..

            Os partidos que enxergarem, em primeiro lugar, que esta atitude suicida já deu o que tinha que dar, vão estar à testa da Grande Virada Democrática que vem por aí.  Pois os caras escreveram a Constituição de cabo a rabo e a descumprem sem parar. O povo, está lá escrito, é detentor de todo o poder e irá cobrá-lo, numa boa, nas urnas e em paz. Mas representantes que lhes viram as costas, vai querer mais não.

 

 

(*) Coordenador da Frente Pró-Petrópolis




 

 

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