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  Renda do brasileiro cai mais de 9% em três anos

Data: 04/07/2016

 

Renda do brasileiro cai mais de 9% em três anos

 
 
Por Rodrigo Carro – Valor Econômico
 
RIO - O Brasil deve fechar, no triênio 2014-2016, com a segunda maior queda da renda per capita em 116 anos. Com previsão de queda de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) estima que o PIB per capita terá retração de 9,4% no período.
 
Na série iniciada em 1900, apenas o triênio 1981-1983 teve recuo mais forte da renda per capita: 12,3%, a preços de 2015, em moeda nacional. Apesar dos sinais de que a economia brasileira possa já ter superado o pior momento da atual recessão, a tendência para 2017 é que a renda continue a encolher. "Teríamos de crescer pelo menos 1% no ano que vem para evitar uma nova queda", explica a economista Silvia Matos, do Ibre.
 
A projeção do centro de estudos da FGV para 2017 é de mais uma queda do PIB, desta vez de 0,1%, o que levaria a uma perda acumulada de 10% da renda per capita em quatro anos. Como o crescimento demográfico está em torno de 0,9% ao ano, seria necessária uma expansão do PIB de pelo menos 0,9% para que a proporção entre PIB e número de habitantes se mantivesse constante. "A renda não está despencando tanto por causa dos benefícios sociais e dos programas de redistribuição", observa Matos.
 
Ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Marcelo Neri vê as conquistas em termos de redução da desigualdade ameaçadas pela conjuntura. "O Brasil está à beira do precipício e corre risco iminente de cair", afirma Neri. "Descemos um barranco, mas ainda estamos surpreendentemente perto do topo."
 
A Tendências Consultoria estima que, entre 2014 e 2018, 5,21 milhões de famílias brasileiras devem deixar a classe C rumo à base da pirâmide social, graças, principalmente, ao quadro desfavorável aos trabalhadores de baixa qualificação. Esse movimento deve reverter a expansão da classe média ocorrida nos anos recentes, quando, entre 2006 e 2013, 3,87 milhões de famílias deixaram as classes De E e ascenderam à C.
 
"A classe C voltará a ser destaque? Achamos que não no médio prazo", diz o diretor de análise setorial e inteligência de mercado da Tendências, Adriano Pitoli, estudioso do tema.

Renda per capita terá segunda maior queda em 116 anos
O Brasil deve fechar o triênio 2014-2016 com a segunda maior queda na renda per capita em 116 anos. Com base num recuo de 3,5% do Produto Interno Bruto previsto para este ano, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV) estima que o PIB per capita acumule retração de 9,4% no período.
 
Na série iniciada em 1900, apenas o triênio 1981-1983 teve diminuição mais forte na renda: 12,3%, a preços de 2015 e em moeda nacional. A situação só não é pior, avaliam economistas, por conta de benefícios e programas sociais instituídos nas últimas décadas.
 
Apesar dos sinais de que a economia brasileira pode já ter superado seu pior momento, a tendência para 2017 é de que a renda continue a encolher. "Teríamos de crescer pelo menos 1% no ano que vem para evitar uma nova queda", explica Silvia Matos, economista do Ibre responsável pelo estudo.
 
A projeção do Ibre para 2017 é que o PIB recue 0,1%, o que levaria a perda acumulada na renda per capita de mais de 10% em quatro anos. Como a taxa de crescimento demográfico gira em torno de 0,9% ao ano, seria preciso uma expansão do PIB de pelo menos 0,9% para que a proporção entre o PIB e o número de habitantes apenas se mantivesse constante. "A renda não está despencando tanto por causa dos benefícios sociais e dos programas de redistribuição", diz Silvia.
 
Mesmo assim, o efeito da crise atual sobre a renda per capita do brasileiro é mais forte, por exemplo, do que no triênio 1929-1931, quando o país - sob o efeito da crise de 1929 - perdeu 7,9% do PIB per capita. José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, concorda que os grupos de mais baixa renda hoje sentem menos o efeito da crise econômica, na comparação entre a situação atual e a do início dos anos 80.
 
"A vantagem atualmente é que, desde meados da década de 90, o país construiu uma rede de proteção social ampla", afirma Camargo, o que está longe de significar que os mais pobres estejam a salvo dos efeitos da recessão. "As camadas de menor renda estão pagando o preço dessa recessão via aumento do desemprego e aceleração da inflação", diz. "Mas todo mundo vai pagar um pouco."
 
Ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri vê as conquistas brasileiras em termos de redução da desigualdade ameaçadas pela conjuntura econômica. "O Brasil está à beira do precipício e corre risco iminente de cair", afirma o economista, diretor do FGV Social. "Descemos um barranco, mas ainda estamos surpreendentemente perto do topo."
 
A proximidade do topo pode ser medida, segundo ele, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE. "Até meados de 2015, a massa da renda do trabalho e seus componentes se manteve. No terceiro trimestre, a massa de salários cai e, em 2016, essa queda se acentua", explica. Para Neri, ainda não há uma crise social instalada no país. "Metade do aumento do desemprego ocorreu porque tem mais gente procurando emprego."
 
Num cenário otimista para 2017, o país poderia crescer até 2%, estima Silvia, do Ibre, mas a economista reconhece que é uma hipótese pouco provável. "O mundo não está ajudando. O comércio internacional está fraquíssimo."
 
Analisando apenas o comportamento do PIB, a recessão que se instalou nos primeiros três anos da década de 80 pode parecer menos feroz - em 1982, a economia chegou a apresentar discreta expansão (0,8%). Só que na época a população crescia em torno de 2,3% ao ano, de acordo com dados do Banco Mundial, o que contribuía para diluir o PIB per capita. Como a taxa de natalidade caiu desde então, o efeito da desaceleração econômica sobre a renda foi menos sentido.

 

Recessão é mais aguda no Nordeste

 

Marina Falcão – Valor Econômico

 
RECIFE - A exaustão do modelo de crescimento baseado na expansão do salário mínimo, benefícios sociais e crédito torna a crise mais amarga na Região Nordeste. Com maior percentual de pobreza, seus habitantes são mais sensíveis à inflação, corrosão do poder de compra de salários e benefícios sociais e à retração do crédito.
 
Nos últimos 12 meses até março, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do Banco Central, caiu 5,3% na região e 3,5% no país e, embora represente cerca de 13,5% da economia nacional, o Nordeste respondeu por 17,7% das vagas de trabalho eliminadas. Desde o último trimestre de 2014, a massa de rendimento real recuou 8,5%, quase o dobro da queda no país como um todo, de 4,3%.
 
Nordeste se afunda mais na crise e pode sair dela por último
A exaustão do modelo de crescimento baseado na expansão do salário mínimo, dos benefícios sociais e do crédito está fazendo a crise ser particularmente mais amarga no Nordeste. Um levantamento realizado pela consultoria Ceplan a pedido do Valormostra uma deterioração acima da média nacional dos indicadores de emprego, renda, atividade econômica e comércio varejista da região. Para economistas, a crise no Nordeste pode persistir por mais tempo do que no restante do país.

No acumulado dos últimos 12 meses até março, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do Banco Central, caiu 5,3% na região. No Brasil, o indicador recuou 3,5% no mesmo período.
 
Com maior percentual de pobreza, o Nordeste tem uma dinâmica econômica mais sensível à inflação, ressalta o economista Jorge Jatobá, sócio da Ceplan. Ele afirma que os números refletem a corrosão do poder de compra do salário e dos benefícios sociais, além da retração do crédito, especialmente o consignado. "Os motivos pelos quais o Nordeste está sentindo mais a crise são os mesmo pelos quais a região apresentou maior crescimento que o país em anos anteriores. Quanto maior o voo, maior é a queda", diz.
 
Embora represente cerca de 13,5% da economia nacional, o Nordeste respondeu por 17,7% das vagas de trabalho eliminadas no país nos últimos 12 meses até março, o que indica que a "queima" de postos formais provocada pela crise está sendo mais acelerada na região. Um dos motivos para isso, explica Jatobá, é o fato da crise ter coincidido com o fim de grandes obras de investimento na região, como é o caso da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. "No auge da construção, Abreu e Lima chegou a empregar 70 mil pessoas. Depois veio uma desmobilização de trabalhadores só comparada a da construção de Brasília".
 
Desde o último trimestre de 2014, a massa de rendimento real nordestina recuou 8,5%, quase o dobro da queda no Brasil, de 4,3%. Alexandre Rands, da consultoria Datamétrica, explica que a contração da massa de rendimento ocorre por conta do desemprego e da consequente pressão negativa da ausência de vagas sobre as negociações de reajuste salarial.
 
Esse cenário tem feito o comércio varejista de quase todos os Estados da região - as exceções são Rio Grande do Norte e Sergipe - sofrer mais do que no restante do Brasil. No ano passado, enquanto o país registrou queda de 4,3% no volume de vendas do varejo, Bahia, Pernambuco e Paraíba apresentaram recuos maiores: de 8%, 7,7% e 10,3%, respectivamente.
 
A derrocada do comércio na região está estampada em placas de "aluga-se" em lojas fechadas na rua da Imperatriz, uma das mais tradicionais no comércio de rua da capital pernambucana. Em um caminho de 100 metros, onde predominam lojas de roupas, sapatos e acessórios, pelo menos 11 espaços comerciais estão procurando novos varejistas dispostos a arriscar na crise.
 
Na contramão dos outros indicadores, a indústria do Nordeste tem sofrido menos que a nacional, o que pode ser explicado em parte pelo seu perfil. Segundo Rands, boa parte da indústria regional é composta pelo ramo de confecções, que ganhou competitividade no mercado interno por causa do câmbio, e pelo setor de alimentos, que é mais resiliente à crise. "A indústria sucroalcooleira, também forte em muitos estados, ganhou com as exportações."
 
Houve ainda o início da operação de grandes investimentos na região nos últimos anos, afirma Jatobá. Destaque para a fábrica da Fiat, em Goiana (PE) e do polo siderúrgico em Pecém (CE). No acumulado de 12 meses até abril, a produção industrial física no Nordeste recuou 2,6% enquanto nacionalmente a queda foi de 9,6%.
 
A resistência da indústria pode ser uma luz no fim do túnel para o NE? Não há consenso sobre isso. Para Jatobá, alguns investimentos de anos anteriores ainda estão amadurecendo, o que deve ajudar na saída da crise. Já para Rands, os setores que vão ser o gatilho na retomada serão os exportadores, pouco relevantes na economia nordestina. "Isso pode postergar a recuperação da região", pontua.
 
Luiz Alberto Esteves, economista chefe do Banco do Nordeste (BNB), ressalta que o elevado peso do setor de serviços (inclui comércio) na composição do PIB regional pode pesar contra também. "O comércio depende intrinsecamente do emprego, que é a última variável a reagir na trajetória de saída da crise", afirma Esteves.
 
Considerando os números de 2013, os mais recentes disponíveis, o setor de serviços representa 73,4% do PIB nordestino e 69,8% do nacional. Com a indústria, acontece uma inversão dos pesos. O setor é 20,4% do PIB nordestino e 24,9% do nacional.
 
Esteves ressalta que quem vai puxar a retomada do país não é o consumo das família, muito menos o gasto público, que também tem presença importante na economia do Nordeste. Ele diz que o motor da recuperação é o investimento privado, em máquinas e equipamentos, um segmento com pouco representatividade na região. "As empresas estão em compasso de espera, mas uma hora vão ter que voltar a investir, até pela própria sobrevivência diante dos concorrentes", diz.
 
Como o governo não tem recurso para fazer os investimentos em infraestrutura, vai precisar de parcerias com a iniciativa privada para alavancar novamente o setor e de concessões. Mais um vez, o Nordeste larga atrás. "Vai depender muito da capacidade dos estados de gerir esse tipo de engenharia. Sabemos que São Paulo já tem uma expertise maior".



 

 

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