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  Legado de Mauá: entre o novo e o abandono

Data: 06/12/2015

 

Legado de Mauá: entre o novo e o abandono

Enquanto praça vibra com o Museu do Amanhã, outras construções estão fadadas ao esquecimento

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Renovada. Da Praça Mauá, atualmente reformada, com a estátua do barão no centro, partiam no passado os barcos que a porto no fundo da Baía de Guanabara - Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO — No centro da Praça Mauá, um monumento em bronze, de 1910, homenageia o barão que dá nome a um dos marcos da cidade. Transformado, o lugar que celebra um dos precursores da industrialização do Brasil está prestes a abrir ao mundo o Museu do Amanhã. Badalação à toda prova, sem dúvida. Mas distante do que acontece com grande parte do legado deixado pelo Barão de Mauá no século XIX, boa parte fadada ao esquecimento.

Foram muitos os negócios em que ele se envolveu para forjar sua imagem de visionário. Antes de se tornar barão e visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Sousa foi caixeiro e negociador. Criou bancos e participou da recriação do Banco do Brasil. Tudo que não faz um acaso o fato de a Praça Mauá (inaugurada em 1910) carregar seu nome.

UMA REFERÊNCIA DO PROGRESSO

Professor da UFRJ e pesquisador da paisagem carioca, o geógrafo Rafael Winter Ribeiro lembra que, desde o século XVIII, toda vez que a cidade começava a se transformar, as mudanças passavam pela região. No início do século XX, durante as reformas do prefeito Pereira Passos — com quem Mauá trabalhou e viajou à Europa —, a abertura da Avenida Central era sinônimo de modernização. Mas a Praça Mauá também tinha relevância: maior referência do Porto, representava o símbolo do desenvolvimento comercial do Rio.

— Da forma como foi construída a memória do barão, ele representa o progresso. Não é à toa que a praça ganhou o nome dele — afirmou Winter Ribeiro.

Se, na Praça Mauá de hoje, o Museu do Amanhã surge imponente sobre o píer que avança na Guanabara, nos fundos da baía, em Magé, um cais que tinha como marca o mesmo afã empreendedor do barão está cada vez mais corroído. Dali, do antigo porto de Mauá, partiam os trens da primeira estrada de ferro do Brasil, construída pelo barão. A estação de Guia de Pacobaíba, tombada, continua lá. Mas se encontra em completo abandono.

— Só vem gente aqui nos fins de semana, quando um guia explica a história da estação. Pelo que sei, é da época do Império — disse, na semana passada, o pescador Igor Rocha.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou não ter recursos para restaurar o lugar. Põe as fichas numa negociação com a Secretaria estadual de Turismo para criar ali o Memorial Ferroviário de Guia de Pacobaíba. Enquanto o projeto não sai do papel, o que restou da linha férrea não condiz com a história de pioneirismo do barão.

Antes da iniciativa de Mauá, os projetos de construção de ferrovias brasileiras fracassavam sucessivamente. Coube a ele mudar esse destino. Em abril de 1854, estava nos trilhos o primeiro trecho, do porto de Mauá à localidade de Fragoso. Dois anos depois, os dormentes chegavam à raiz da Serra da Estrela, completando 16 quilômetros de extensão — hoje, em parte do trajeto, de Piabetá até Vila Inhomirim, circulam trens da Supervia.

Para chegar ao porto de Mauá, eram usadas embarcações a vapor que cruzavam a Baía de Guanabara. Elas saíam justamente do Largo da Prainha, hoje a Praça Mauá, perto do local onde o barão tinha um trapiche.

O empreendedor também participou da construção da Estrada União e Indústria, em Petrópolis. Transitou por áreas que iam do saneamento à iluminação pública: construiu o Canal do Mangue da Avenida Presidente Vargas, inaugurou a Companhia de Iluminação a Gás... Em 1846, adquiriu o Estabelecimento de Fundição e Estaleiro da Ponta d’Areia, em Niterói — o que o tornou conhecido como um dos fundadores da indústria naval brasileira. Lá, a antiga residência da Baronesa Maria Joaquina, esposa do barão, segue de pé. O Instituto Mauá de Cultura, Tecnologia e Sustentabilidade quer transformá-la, ano que vem, num museu. Hoje, porém, seus únicos moradores são cachorros, bravos na guarda do patrimônio do Barão de Mauá.



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