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  Os silêncios da campanha

Data: 05/09/2014

 


Os silêncios da campanha

Philippe Guédon

 

            Pessoalmente, decepcionam-me a campanha e sua corte de programas eleitorais obrigatórios, entrevistas mornas ou “agressivas” e debates entre candidatos. Se algum candidato contratou marqueteiro para produzir o que nos é dado assistir, permito-me ponderar que está a jogar dinheiro pela janela.

            Aos meus olhos e ouvidos, o que falam e como o dizem os candidatos à Presidência, todos sem distinção, não mereceria figurar num opúsculo de “Introdução à Administração Pública”, escrito para leigos de poucas luzes. Ouve-se quem defenda a Petrobrás assaltada e aviltada, a energia eólica cujo rendimento, barulheira e poluição visual a Europa critica cada dia mais, ou a consistência relativa de tal ou qual “programa de governo”; e tudo no meio de montes de insinuações de uma finesse paquidérmica e que supostamente deveriam nos levar à conclusão que nenhum dos candidatos reúne as mínimas condições para governar o Brasil.

            Em verdade, os silêncios têm sido muito mais significativos do que as falas. Pois urram as nossas terríveis deficiências administrativas e o despreparo dos que as deveriam combater. Se me permitem, consciente do elevado grau que ocupo na escala da desimportância, vou destacar algumas observações que me passam pela cabeça:

 

1 – Cada um dos candidatos tem um “Programa de Governo”, este tipo de plano que não consta de nossa legislação e o qual, por ser apenas quadrienal, não leva a lugar algum. Ninguém consegue detalhar e executar uma política pública federal em três anos e fração (pois o primeiro ano de Governo já é encontrado devidamente balizado).

2 – Se o candidato cita o seu programa de Governo, ele optou por uma das três hipóteses a seguir: A) inexiste planejamento federal a médio e longo prazo; B) existe, mas o candidato pretende impor suas ideias e de seu partido sem ligar para mais nada; C) o candidato não tem a menor ideia do que existe ou não existe e repete qualquer coisa que lhe sopram ao ouvido.

3 – Existem marcos regulatórios? Existem leis que definam planos setoriais de médio e longo prazo? Temos Plano plurianual votado e em curso? Temos orçamentos? Se temos isso tudo, o “programa de Governo”, quando muito, poderá sugerir mudanças ao Legislativo. Bem sei que o TSE tem responsabilidades no cartório, pois contribui na confusão entre propostas de Governo e programa de Governo. Mas pendure-se a responsabilidade neste ou naquele gancho, o resultado é um só: incensam-se programas sem a menor validade nem interesse.

4 – Nenhum candidato aludiu a uma visão global do orçamento. Aumentar tal despesa, alocar verba aqui ou ali, pode pegar bem para os fãs de carteirinha do orador, mas as receitas e despesas sendo finitas, o que se aumenta cá deve ter sido tirado de algum lugar. Todos os prefeitos sabem disso, mas na União, o papo dispensa esses detalhes. 

5 –.Algum Candidato preocupou-se com os efetivos que mantém a União? Concursados, terceirizados, “de confiança”? E que vêm sendo aumentados para atender os apetites partidários em nome da “governança”? Vamos lá: quantos são, quantos poderiam ser, qual a economia que pode ser feita? Ou vamos ficar só nas abobrinhas?

6 – Para que servem, hoje, os Estados, entre a União e os Municípios? Vinte e sete Assembléias Legislativas ou Distritais, máquinas pesadíssimas, para que, mesmo? Apresentarão custo/benefício suportável? Não dá para bolar outra fórmula mais eficiente e menos dispendiosa? E mais toda uma parafernália de instituições e órgãos cujo efeito mais claro é o de gastar horrores?

7 – Sim, o pré-sal é importante, pode gerar receitas de trilhões em algumas décadas. Mas então, a loucura dos déficits atuariais dos regimes próprios de previdência, que totalizam 3,7 trilhões de reais (cálculo da ABIPEM jamais contestado) merece a mesma atenção e não o mega silêncio dos candidatos. Ou estou equivocado? E olhem que é culpa do Governo Federal que errou feio depois de 1988, e simplesmente faz cara de paisagem desde então.

8 – Por que nenhum programa fala em unificar o RGPS (INSS) e os RPPS? Cada eleitor tem um voto igual ao dos demais, Já previdência social, trabalhador tem uma, servidor outra, deputado uma terceira, senador uma quarta, e o Judiciário uma quinta, e vamos que vamos. Faz sentido, ou falta coragem para abordar o tema?

9 – E olhem que essas campanhas que só dizem silêncios gastam rios de dinheiro que correm para ralos incertos e não sabidos.

10 – Cito, para encerrar, a política externa adotada pelo Governo Federal. É esta que queremos?

 

            Li, em algum lugar, uma comparação entre as trajetórias dos principais candidatos na vida pública, colocando as respectivas experiências na balança. Eu, não sei porque, sugeriria que se comparassem as vivências fora da vida pública, aqui no reino do pé no chão: quem foi empresário, quem ocupou responsabilidades na iniciativa privada, quem viveu quais experiências por aqui onde nada é garantido e direitos adquiridos são como as nuvens no céu.




 

 

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